quinta-feira, 25 de novembro de 2010

INVEJA

O conceito da palavra inveja, contida no dicionário Aurélio, é muito interessante. “Desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. Desejo violento de possuir o bem alheio.”
Inveja. Um dos sentimentos mais complicados e difíceis de serem eliminados da alma humana. E que mais causa sofrimento à humanidade. Onde houver apego à materialidade das coisas, naquilo que o objeto de desejo simboliza em termos de bem-estar e status quo, aí estará a inveja. A cobiça é o seu moto-contínuo.
Há pessoas que se colocam como cães de guarda, sempre alertas ao menor ruído. Basta alguém se destacar em alguma área, por mais ínfima que seja e lá estará o invejoso, pronto para apontar o dedo e tentar minimizar o feito de seu próximo. Uma roupa diferente, um calçado da moda ou mesmo um simples brinco ou pulseira bem colocados, já se torna motivo para elogios, nem sempre sinceros. As mulheres, e que me perdoem as mulheres, elas são pródigas nesse tipo de expediente.
É necessário, contudo, diferenciar a inveja, a cobiça, da busca do bem-estar. Não há nada de errado em trabalhar para se conquistar o conforto necessário à subsistência e às condições materiais imprescindíveis, visando o aprimoramento e a eficiência em determinada atividade, sem causar prejuízo ao próximo. Se alguém possui um objeto ou uma virtude que nos falta, desejá-los com humildade e sinceridade não é inveja.
Porém ela surge, graciosa e sedutora, quando sentimos uma sensação de perda, um vazio não preenchido pelo objeto de desejo, principalmente quando, numa formulação mental mesquinha e destrutiva, nos consideramos muito mais dignos do que aquele que possui o que não temos.
A inveja é o mais dissimulado dos sentimentos humanos, não só por ser o mais desprezível, mas porque se compõe, em essência, de um conflito insolúvel entre a aversão a si mesmo e o anseio de autovalorização, de tal modo que a alma, dividida, fala para fora com a voz do orgulho e para dentro com a do desprezo, não logrando jamais aquela unidade de intenção e de tom que evidencia a sinceridade.
Confessamos ódio, humilhação, medo, ciúme, tristeza, cobiça. Inveja, nunca. A inveja admitida se anularia no ato, transmutando-se em competição franca ou em desistência resignada. A inveja é o único sentimento que se alimenta de sua própria ocultação.
O homem torna-se invejoso quando desiste intimamente dos bens que cobiçava, por acreditar, em segredo, que não os merece. O que lhe dói não é a falta dos bens, mas do mérito ou reconhecimento. Daí sua compulsão de depreciar esses bens e substituí-los por simulacros maiores, mais caros mais pomposos. E aos olhos dos incautos o tornaria mais importante ou superior. É precisamente nas dissimulações que a inveja se revela da maneira mais clara.
O invejoso não suporta ver um novato invadir espaços que ele, em sua santa indolência, deixou de ocupar por pura incompetência e comodismo. Se sente atingido, usurpado e se agarra, com unhas e dentes, ao espaço que ele acha que é seu e somente seu. Uma sutileza interessante, já que o homem pré-histórico, movido pelo instinto brutal, destroçava o seu algoz, a fim de se apropriar de seus pertences. O tempo passou, a evolução se processou como convém à estrutura das leis naturais, mas o princípio permanece o mesmo. O invejoso passa para o boicote, vai minando com fofocas e pequenas atitudes estrategicamente montadas, a fim de destruir o novo trabalhador da Doutrina. E provar, ao menos para si mesmo, que o espaço é dele, e somente dele. Assim se sente feliz na sua própria ignorância e sentimento de inferioridade. A inveja já “derrubou” grandes profissionais nas empresas devido a falta de capacidade de alguns colegas e a deficiência de perspicácia dos empreenderes.

Um comentário:

Stage d'Oro disse...

Prezado Renato: visitei seu Blog e estou inscrito como o primeiro seguidor. Parabéns pelos textos e bem-vindo à blogosfera.
Fraternalmente, José EKISLIBRIS Maurício

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