quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O SIGILO MAÇÔNICO

Na longa história da Maçonaria, nada causa tanta controvérsia como o compromisso da Ordem com o sigilo. Este único fator tem gerado rumores tão fantasiosos a ponto de se tornarem mitos. Produzindo sátira, desconfiança e, por vezes, a exposição da Ordem ao ridículo. O sigilo leva a uma mística que tanto ajuda quanto prejudica a instituição, de uma forma tão subjetiva que só pode ser imaginada.
Infelizmente, esta mística não é inteiramente benigna. Enquanto os Irmãos desfrutam da fraternidade, o público é deixado para imaginar o que se passa por trás das portas fechadas do Templo. A imaginação é uma ferramenta poderosa, e por isso as características que tornam a Maçonaria atraente para os seus membros dão origem a uma grande variedade de imagens fantásticas para os não iniciados.
Algumas pessoas que vêem a Maçonaria do lado de fora acreditam tratar-se de uma organização sinistra. Nos Estados Unidos, por exemplo, ainda é comum pessoas acreditarem que a Loja é um lugar onde o sussurro de uma reunião noturna se transforma em políticas de governo no dia seguinte e onde os homens podem ganhar poder através do conhecimento da “palavra secreta”, e não através de eleições populares.
Esta visão não é difícil de entender. O simples fato de alguma coisa ser escondida aflora a curiosidade. E uma organização que preserva o seu sigilo certamente evoca imagens de conspiração e atividades proibidas.
A questão é que a falta de explicação só provoca o leigo, que é então, deixado para especular sobre o significado de nossas vestimentas peculiares, os emblemas que as decoram e nossos símbolos e alegorias. 
Mas quando examinamos o fenômeno, começamos a vislumbrar a real natureza do segredo maçônico: Como a Maçonaria percebe a sua relação com o público em geral é o cerne da questão.
A partir da iniciação somos levados a entender os significados dos símbolos e as tradições a que se referem, mas prestamos pouca atenção ao aspecto singular do simbolismo.
E rapidamente tornamo-nos confortáveis com a situação, tão rápido quanto perdemos de vista o fato de que o grande público vê tudo isso de uma forma diferente.
Os símbolos são um ponto focal para a crença de muitas pessoas de que a maçonaria detém informações ”clandestinas”, para as quais o resto do mundo não tem acesso.
Este tipo de percepção se manifesta de uma maneira tangível: Ao longo dos anos, a crítica à Maçonaria tem se tornado uma indústria. Existem diversos críticos dedicados a entregar sua mensagem anti maçônica. Eles aparecem em televisão, escrevem cartas a editores, artigos e livros, todos voltados para um público que muitas vezes parece fascinado pelos contos sensacionalistas que são o estoque do comércio anti maçônico. Mas o que pensamos de tudo isso? Como seria de se esperar, não passa despercebido.
Mas este tem sido um debate interno. Raramente divulgamos nossa preocupação. O leigo, ao não ouvir respostas, é induzido ao erro pelo silêncio e pela indiferença. 
No entanto, o debate é real e consciente.
Se por um lado podemos questionar a necessidade de manter o sigilo abrindo a Maçonaria à opinião pública, afinal o mercado já é farto de material de livre acesso, por outro lado é importante lembrar que o sigilo é parte integrante do ofício.
Os “segredos” da Maçonaria são elementos simbólicos intimamente envolvidos com os ensinamentos maçônicos. Mudar isso alteraria a natureza básica da Ordem.
Isto porque somos ensinados a valorizar as tradições representadas por um elaborado sistema de símbolos e alegorias.
A maior parte da mística, é claro, não tem nenhuma substância. Ela surge a partir de uma confusa falta de informação combinada com uma tentativa evidente de escondê-la.
As pessoas sabem pouco sobre a Maçonaria, simplesmente porque não sabem para onde olhar. Na realidade, a suspeita que paira sobre a Maçonaria deve-se mais à falta de publicidade do que uma conspiração anti maçônica deliberada. 
Parece, então, que um breve estudo sobre qualquer uma das várias histórias gerais da Ordem seria suficiente para dissipar a maior parte do mal entendido que tem se edificado em torno dela. Mas aí reside outro problema. 
Um ou dois bons livros sobre Maçonaria seriam suficientes para esclarecer uma série de mal entendidos, mas apenas se o leitor entender e acreditar no que está escrito. Como sabemos, a boa literatura maçônica não basta ser lida, deve ser interpretada.
Outro ponto importante é que uma rápida pesquisa de livros sobre maçonaria revela diferentes e contraditórias descrições da organização. Um livro descreve a Maçonaria como uma organização nobre que promove os mais elevados valores morais. Outro descreve-a como um sistema anti-cristão.
Obviamente nem tudo o que tem sido escrito sobre a Maçonaria pode ser verdade. Muitas obras devem ser imprecisas, mesmo as que tentam explicar as origens da Ordem, visto que podemos encontrar literaturas que defendem a evolução do ofício a partir das guildas de pedreiros medievais, outras imputam o crédito aos Templários ou aos Egípcios. Há até quem já tenha visto os primórdios da maçonaria no Jardim do Éden...
O fato é que qualquer um de nós, dos quais se espera conhecer ao menos parte da verdade, será sempre duramente pressionado para dizer qual é qual.
Durante séculos, as pessoas têm tentado descobrir as origens da Maçonaria. Talvez grande parte deste trabalho tem sido em vão por estarem procurando por uma organização antiga, que evoluiu para a fraternidade moderna. Mas a Maçonaria nunca foi uma única organização. Ela sempre foi tradição.
Uma das características de uma alegoria é a de que ela não fornece respostas. É, afinal, apenas um veículo de comunicação por símbolos. E os símbolos apenas apontam a atenção na direção certa. O resto é com o indivíduo.
E sob este prisma, o Maçom é livre para interpretar as lições da Loja como quiser. O ritual convida-o a fazê-lo uma vez que é repleto de lendas e, por vezes, situações que dão margem à interpretações diferentes.
Assim, ao usar o livre arbítrio, qualquer indivíduo maçom pode concluir que as lições são destinadas para separar ou unir, que por exemplo nossos sinais, toques e palavras são concebidos para receber um Irmão, ou simplesmente excluir um não iniciado.
E isto é tanto uma lição quanto um aviso. Nós, Maçons modernos, temos o espírito e a reputação da Ordem em nossas mãos. Assim, seremos os mocinhos ou os bandidos, dependendo da maneira como interpretamos o ritual e da nossa capacidade (ou falta dela) de argumentar sobre a Ordem com o público em geral. A escolha é nossa.
O fato é que tanto o nosso compromisso com o sigilo quanto os argumentos dos críticos são baseados em um ponto de vista comum. Esse ponto de vista liga o Maçom ao seu crítico em um vínculo que talvez seja até mais forte que a ligação maçônica de fraternidade. Ele promove a intolerância e a exclusividade. É o contraponto do espírito benevolente que a Maçonaria ensina desde os seus primórdios.
Infelizmente muitos dos que estão envolvidos com a maçonaria, sejam maçons ou seus críticos, não se informam além do básico. Satisfeitos com o que encontram na superfície deixam de perceber o significado subjacente a tudo. E assim, um sistema que foi cuidadosamente construído para unir as pessoas é muitas vezes usado para mantê-las separadas (o maçom do seu crítico).
Dizer a um homem alguma coisa, qualquer coisa, e então adverti-lo que é um segredo é a melhor maneira de separá-lo das pessoas ao seu redor. Isto obriga-o a escolher entre esconder seu conhecimento dos outros e trair aquele que o deu a ele.
Seguros que estamos na crença de que não fazemos nada de sinistro, não vemos razão para corrigir o que não consideramos errado, mas no final, é provavelmente muito melhor entender uma coisa e debater seus desdobramentos, do que ser mistificado por ela.
Ir.´.Rogério Alegrucci - M.´.M.´. 
Fonte: Grupo Brasil Maçôm

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

AS MULHERES NA MAÇONARIA

Por Kenyo Ismail
Como se sabe, a maçonaria tida como regular é restrita a homens, não aceitando, em hipótese alguma, mulheres em suas colunas. Mas desde o surgimento dos movimentos igualitários e do feminismo, muitos são os questionamentos e críticas sobre a Maçonaria por essa restrição, considerada por muitos como conservadora e machista. Não há aqui a intenção de imprimir opiniões favoráveis ou contrárias ao ingresso de mulheres na maçonaria. O objetivo é de compartilhar informações e colaborar com a reflexão sobre o tema.
Nas últimas décadas, as Obediências têm apresentado diferentes justificativas para tal restrição. Sem entrar no mérito de cada uma, é importante conhecê-las, seja para defendê-las ou para criticá-las:
 
CUNHO HISTÓRICO
A maçonaria atual originou-se da maçonaria operativa, ou seja, dos pedreiros de ofício. Esses pedreiros eram, evidentemente, homens. Daí, em respeito às tradições e costumes do chamado “Antigo Ofício”, as Obediências mantém tal regra.
CUNHO SOCIAL
A maçonaria especulativa consolidou-se na Inglaterra, de onde surgiu a primeira Grande Loja Maçônica. As Lojas daquela época se reuniam, principalmente, no fundo de tabernas, as quais eram restritas a homens. A presença duma mulher de bem numa taberna era inaceitável e, consequentemente, nas Lojas também. Com o tempo, as Lojas criaram seus próprios espaços, mas a tradição permaneceu e foi formalizada nas Constituições de Anderson.
CUNHO OCULTISTA
Existem Ordens Solares e Ordens Lunares. As Ordens Solares são voltadas aos homens, à razão, possuem juramentos e segredos, o Sol está presente no simbolismo, e são baseadas no compromisso. As Ordens Lunares são voltadas às mulheres, à emoção, possuem menos hierarquia, a Lua está presente no simbolismo, e são baseadas na devoção. A maçonaria é tipicamente uma Ordem Solar. Por isso, o ingresso de mulheres seria incoerente.
CUNHO SEXUAL
A maçonaria é uma fraternidade, e uma fraternidade com reuniões que exigem concentração. O ingresso de mulheres poderia desviar a atenção de alguns maçons durante as reuniões, o que prejudicaria no bom andamento das mesmas. Além disso, a partir do momento em que um homem e uma mulher maçons tivessem uma relação sexual, a fraternidade entre eles estaria prejudicada.
CUNHO LEGAL
As normas de muitas instituições possuem cláusulas “pétreas”, que são cláusulas imutáveis. Isso ocorre em alguns artigos da Constituição brasileira, por exemplo, em que mesmo se todos os Deputados e todos os Senadores aprovassem por unanimidade uma mudança, mesmo assim esses artigos não poderiam ser modificados. Na maçonaria também é assim, possuindo seus “Landmarks”, imutáveis, mesmo se for o desejo da maioria dos maçons.
CUNHO MORAL
O maçom, quando ainda candidato, durante sua iniciação, presta um juramento de seguir os Landmarks maçônicos, os quais incluem o ingresso apenas de homens. Ele poderia se recusar a prestar tal juramento, e assim não ingressar na maçonaria. Mas, ao prestar o juramento e tornar-se maçom, ele assume o compromisso de observá-lo, mesmo que não concorde plenamente com o mesmo.
CONCLUSÃO
Essas são as justificativas mais comuns apresentadas e defendidas pelas Obediências Regulares e autores maçons. Há maçons que acreditam em uma dessas justificativas; outros que acreditam em mais de uma; e há ainda os que não acreditam em nenhuma, mas observam moralmente o compromisso assumido.
Todas essas justificativas são bastante coerentes, ao mesmo tempo em que sempre cabe questionamentos às mesmas. Afinal de contas, numa instituição como a maçonaria, pesquisadora da verdade, nada é indiscutível. Porém, há duas questões distintas: a regra e o respeito à regra. Como maçons regulares, todos têm a liberdade de refletir, debater, questionar. Mas como maçons regulares, todos também têm o dever de, enquanto a lei existir, respeitá-la.
É interessante observarmos que instituições tradicionais e antes restritas a homens, como Rotary e Lions, abriram suas portas às mulheres. Para o Rotary, a decisão veio por força judicial em 1987. Já o Lions aprovou em sua Conferência Internacional a mudança estatutária no mesmo ano, permitindo o ingresso de mulheres.
No caso da Maçonaria, não existe uma autoridade internacional, pois cada Obediência é soberana em seu território. Até mesmo a Conferência Mundial das Grandes Lojas Regulares não possui autoridade sobre a legislação das Obediências participantes. O que se tem é um entendimento de muitas Obediências de que a Grande Loja Unida da Inglaterra, sendo a Obediência mais antiga do mundo, é a fiel guardiã das antigas tradições, e por isso muitas dessas Obediências seguem suas recomendações.
Sobre o tema da mulher na maçonaria, a Grande Loja Unida da Inglaterra se pronunciou em 1999 no sentido de que reconhece a existência da Maçonaria Feminina e de que essas instituições são “regulares na prática”, apesar de não serem “regulares na origem”. Assumiu também que, de tempos em tempos, tem realizado diálogos informais com as autoridades das Grandes Lojas Femininas da Inglaterra sobre assuntos de “interesse mútuo”. No mesmo comunicado, a Grande Loja Unida da Inglaterra se declarou contrária à Obediência Mista presente na Inglaterra, a Grande Loja Direitos Humanos, mas talvez não pelo fato de ser mista, e sim pelas práticas daquela Obediência.
Apesar da Grande Loja Unida da Inglaterra ter dado um sinal que pode ser positivo a longo prazo e que pode vir a influenciar as demais Obediências mundiais, a maior resistência não vem do “Velho Mundo”, e sim do novo: a maçonaria americana representa ¼ das Obediências Regulares e quase a metade de todos os maçons do mundo. E o conservadorismo americano, também presente na maçonaria, indica que o mais próximo de uma mulher adulta se reunir em um templo da maçonaria regular dos EUA é e será através da Ordem da Estrela do Oriente.
De qualquer forma, esse sempre será o grande paradoxo da maçonaria: acompanhar a evolução da sociedade, se modernizar, sem abrir mão das antigas tradições que tanto defende e preconiza. O que pode ser modernizado? O que deve ser mantido? Talvez esse seja o grande mistério da maçonaria de hoje.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O MAÇOM MATA


Esta semana fui procurado por um funcionário (não posso dizer repórter, pois o mesmo não era imparcial) de uma entidade religiosa que gostaria de me fazer algumas perguntas para o jornal institucional. Sabendo que não somos bem vistos pelos membros desse segmento cristão, aceitei de pronto o encontro, afinal era uma oportunidade de desmistificar. Clima amistoso, perguntas básicas, até que começou o jogo de palavras visando descobrir “os segredos” e se realmente o demônio faz parte da Maçonaria. Tudo simples de responder, até que influenciados pela noticia do assassino norueguês, veio a pergunta final: - É verdade que o Maçom mata? Na hora o sangue subiu, pois estou incomodado pelas manifestações e difusão da noticia por verdadeiros Irmãos Maçons. Respirei fundo e respondi: - SIM, É VERDADE, O LEGÍTIMO MAÇOM MATA! Vocês precisavam ver o brilho nos olhos e o movimento de acomodação nas cadeiras dos interlocutores. Continuei: - O Maçom Alexander Fleming ao descobrir a penicilina matou e ainda mata milhões de bactérias, mas permite a vida continue para muitos seres humanos. O Maçom Charles Chaplin com a poderosa arma da interpretação e sem ser ouvido, matou tanta tristeza, fez e ainda faz nascer o sorriso da criança ao idoso. O Maçom Henri Dunant ao fundar a Cruz Vermelha matou muita dor e abandono nos campos de guerra. O Maçom Wolfgang Amadeus Mozart em suas mais de 600 obras louvou a vida. O Maçom Antonio Bento foi um grande abolicionista que junto com outros maçons, além da liberdade, permitiram a continuidade da vida a muitos escravos. O Padre Feijó, o Frade Carmelita Arruda Câmara e o Bispo Azeredo Coutinho embasados nas Sagradas Escrituras e como legítimos maçons desenvolveram o trabalho sério de evangelização e quem sabe assim mataram muitos demônios. O Maçom Baden Powell ao fundar o Escotismo pregava a morte da deslealdade, da irresponsabilidade e do desrespeito. O Maçom Billy Graham foi o maior pregador batista norte-americano e com seu trabalho matou muita aflição e desespero. Inclusive há no Brasil um movimento chamado MEB – Maçons Evangélicos do Brasil. Mas o Maçom não só mata, ele também é morto. Por conta dos valores de liberdade, igualdade e principalmente fraternidade, mais de 400 mil maçons, juntamente com judeus foram mortos nos campos de concentração. Também sofremos muita perseguição aqui no Brasil, quando imigrantes europeus que professavam religiões diferentes ao Catolicismo, não podiam construir seus templos e os maçons ajudaram. Querem um segredo? Muitos cultos protestantes ocorreram dentro de Lojas Maçônicas, afinal o Maçom combate a falta de liberdade religiosa. Este senhor Anders certamente torce por um time de futebol, tem preferência por uma marca de cerveja, tem a cor que mais gosta, ou tipo de música ou até mesmo um credo religioso, não há de se fazer vinculações. Esta situação foi causada por um indivíduo, clinicamente perverso que tem personalidade psicopática. A psicopatia é um distúrbio mental grave caracterizado por um desvio de caráter, ausência de sentimentos genuínos, frieza, insensibilidade aos sentimentos alheios, manipulação, egocentrismo, falta de remorso e culpa para atos cruéis e inflexibilidade com castigos e punições. O legítimo Maçom não é o homem que entrou para a Maçonaria, mas aquele que a Maçonaria entrou dentro dele. Houve e há Maçons em todos os seguimentos da sociedade e todos com o mesmo propósito; fazer nascer uma nova sociedade, mais justa e perfeita, lógico sem esquecer que o MAÇOM MATA, principalmente o preconceito. E vamos vivendo sempre recordando o ensinamento de Mateus 7:1-2 “Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós.” Depois do cafezinho, convidei estes Irmãos (afinal somos todos filhos de Deus) para que acompanhassem a Campanha de Fraternidade que a Loja Maçônica Presidente Roosevelt iria fazer no domingo seguinte.

Grato pela atenção
TFA,
Quirino
Sérgio Quirino Guimarães
ARLS Presidente Rooselvelt 025
Palácio Maçônico – Grande Loja BH/MG

quinta-feira, 13 de junho de 2013

RITO ESCOCÊS RETIFICADO


O Regime, assim denominado este sistema maçônico, nasce em França na segunda metade do sec. XVIII.

O Rito é ecumênico. Nos três primeiros graus, como é óbvio, admite nas suas Oficinas Irmãos visitantes de outros Ritos, sejam eles Cristãos, Judeus ou Muçulmanos. Nos graus IV, V e VI somente se admite como visitantes Irmãos da Ordem do Templo e Malta. Nos trabalhos está presente o Evangelho segundo São João (incluindo nas Lojas Escocesas de Santo André), aberto no primeiro Capítulo. O Rito é fundamentalmente Joanita. Está ligado à mensagem de Amor e Tolerância do Novo Testamento sem detrimento da Justiça vinculada pelo Antigo Testamento. Está ligado à "Tradição Templária" em termos de Herança Espiritual e próximo da "Gnose".

É provavelmente o Rito mais próximo da Maçonaria Operativa de origem Medieval, ou seja da Maçonaria anterior a 24 de Junho de 1717.

Em Loja Simbólica os obreiros, além de avental e luvas, usam todos, uma espada e um chapéu triangular embora só a partir do grau de Mestre se possam cobrir.
O Regime é resultante dos trabalhos de vários Maçons ilustres em que se deve destacar Jean Baptiste Willermoz,

Face a uma dispersiva disparidade de Ritos e Sistemas maçônicos existentes no século XVIII e à preponderância que a Ordem da Estrita Observância Templária alemã começava a ter no mundo maçônico, intrigado, fascinado e depois um pouco séptico pelo sistema maçônico dos "Eleitos Cohen" de Martinez de Pasqually, Willermoz parte para a criação de um Rito que reflete essas três tendências:

- A Maçonaria existente em França na sua vertente mais significativa (Escocismo)
- As doutrinas cabalístico/ocultistas do teosofismo martinezista do sistema de Martinez de Pasqually.
- O Sistema da Estrita Observância Templária (1754) do Karl Gotthelf von Hund von Altengrotkau, barão do Império alemã, senhor de Leipzig e de Colônia, sistema alemão em que a vertente cavalheiresca se sobrepunha à maçônica já que se reclamava de não só herdeira mas restauradora da Ordem do Templo extinta em 1312.

Willermoz, muito inteligentemente, retira as pretensões Templárias, no sentido de restauração político material e temporal da Ordem, e reclama-se de uma herança espiritual apenas. Acalma assim as Monarquias existentes e a Igreja de Roma.
Mantém o conteúdo esotérico do sistema de Pasqually mas avança para um ecumenismo não impregnado da teosofia martinezista onde por um lado introduz as teses de Martinez sobre a origem primeira do Homem, a sua condição atual e destino final no Universo, mas sem entrar em choque com a mensagem inicial da Tradição Cristã primitiva divulgada através dos primeiros Padres da Igreja.

Não divorcia da prática maçônica praticada em França ou seja do Escocismo e dos vários graus que sintetizados mais tarde irão em 1786/87 vir a constituir o Rito Francês.

Resultado dos vários Conventos que se sucedem a Ordem acaba por ser finalmente estabelecida em 1782, em Wilhelmsbad (Alemanha), como dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (C.B.C.S.), Ordem Templária Retificada, embora Willermoz continue a trabalhar nos diversos rituais até 1809.

Nossa Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa (C.B.C.S.), Ordem Templária Retificada tem como meta:

a) O aperfeiçoamento do indivíduo pela prática das virtudes com o fim de aprender a vencer as paixões, corrigir os defeitos e progredir na via da realização espiritual;
b) A total dedicação à Pátria e ao serviço ao próximo;

c) A prática constante de uma beneficência ativa e esclarecida a todos os homens, sem importar qual seja a sua raça, nacionalidade, situação, religião e suas opiniões políticas ou filosóficas.

Assim o Regime propõe a realização espiritual como finalidade a cada um de seus membros, facilitando-lhe os meios para conseguir-lo, e em convertê-los em homens verdadeiros, templos de Deus.

Está composto por quatro graus que estão fundamentados na reconstrução interior do homem pelo aprofundamento da fé e da prática assídua das virtudes:

4º grau: Mestre Escocês de Santo André. Este grau faz referência à tradição divina do Templo de Salomão e a presença permanente da Santa Shekinah. Também se deduz que enquanto o primeiro Templo foi destruído, dentro das ruínas permanecia o sagrado conhecimento do Deus de Israel. Também indica a chegada da Nova Jerusalém, a mística Sión.

Ordem Interna, porta da entrada a Cavalaria:

5º grau Escudeiro Noviço. Se requer que sua doutrina tradicionalmente se transmita de forma oral, culminando nos Cavaleiros Templários, que se supõe foram os últimos custódios deste conhecimento divino.

6º grau Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (C.B.C.S.). Explica-se que a Cavalaria da Cidade Santa se manifestou em bons trabalhos que são o caminho perfeito a Deus e pela difusão dos mesmos, assegurando a grande bondade à família humana e a última conquista do verdadeiro esclarecimento.
Os três primeiros graus, Lojas de São João, estão submetidos a autoridade e jurisdição da Potencia Simbólica Regular e reconhecida do Pais. No nosso caso, o Grande Oriente do Brasil.

Uma vez que o Mestre Escocês de Santo André dá mostras de ter alcançado o grau de realização espiritual, quando prova que efetivamente levou a cabo sua iniciação maçônica, é onde pode ter acesso à Ordem Interior.

A Ordem Interior é uma Ordem de cavalaria de nenhum modo assimilável, nem a um Sistema de altos graus, nem aos graus filosóficos. Comporta duas etapas:

Uma primeira etapa preparatória e transitória que é a de Escudeiro Noviço. A qualidade de Escudeiro Noviço se confere pela cerimônia de investidura. Esta qualidade é revogável. O Escudeiro Noviço tem como única tarefa preparar-se, durante o prazo de pelo menos um ano, para converter-se em Cavaleiro; mas se durante este período de tempo não mostra a preparação requerida, pode e inclusive deve, segundo o disposto no Código dos C.B.C.S., ser retrocedido a sua condição de Mestre Escocês de Santo André.
A segunda etapa é a de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa (C.B.C.S.). Esta etapa não é um grau, senão uma qualidade que se confere na cerimônia de armamento. Esta cerimônia se celebra somente na presença do Grão Prior/Grão Mestre Nacional, pois somente ele pode armar cavaleiro no País.
O Cavaleiro tem o dever de obrar ativamente na Ordem e no mundo, para por em prática os ensinamentos morais, religiosos e doutrinais recebidos nas Lojas de São João e de Santo André. Lojas que não abandona e onde deve agora mais do que nunca, dedicar-se ao serviço de seus Irmãos e ao de todos os homens, particularmente, o exercício da beneficência.


Por sua filiação espiritual, o Regime reivindica, da mesma forma que a Ordem do Templo, a dupla qualidade cavalheiresca e religiosa. Esta dupla qualidade, que aparece já ao longo dos graus maçônicos e se confere plenamente pelo armamento, não é de se empregar somente no mundo dos séculos XII ou XVII, senão que é atemporal e os meios para se levar a cabo, cuja natureza é essencial, permanecem imutáveis, visto que consistem no colocar em prática cotidiana e universal as virtudes teológicas da fé, da esperança e da caridade.

Desde a sua constituição, o Regime tomou segundo as adaptações decididas no Convento de Wilhelmsbad (1782), a divisão administrativa que a Ordem da Estrita Observância Templaria reconstituiu e que era da antiga Ordem do Templo. Segundo esta divisão, o território francês estava repartido em três Províncias: a II Província - Auvernia, com a cidade de Lyon como sua sede; a IIIª Província - Occitania, com sede em Bordeaux; e a V Província - Borgonha, com sede em Estrasburgo.

Atualmente, temos mútuo reconhecimento com todos os Grandes Priorados Regulares do mundo e são:

1778 Grande Priorado Retificado de Helvécia

1934 Grande Priorado dos Estados Unidos de América

1937 Grande Priorado da Inglaterra e Gales

1986 Grande Priorado da Bélgica

1995 Grande Priorado da Lusitânia

1999 Grande Priorado de Togo

2002 Grande Priorado (Retificado) da França

2008 Grande Priorado do Brasil

2008 Grande Priorado da Espanha

2010 Grande Priorado da Itália

quarta-feira, 29 de maio de 2013

ORDEM DOS GUIAS DO GRAAL - AMORC

 
A Ordem Rosacruz propõe o estudo das leis naturais e das leis cósmicas, que geram e mantêm a Vida possibilitando, desta forma, melhor compreendê-la. Estimula o aperfeiçoamento do ser humano, através do desenvolvimento de suas melhores qualidades, permitindo-lhe, assim, conseqüentemente, pautar-se pelos mais nobres valores éticos e morais e, sob tais princípios, viver.
O objetivo da AMORC é, portanto, através dos estudos e práticas rosacruzes, auxiliar cada indivíduo a se tornar um ser humano melhor, através da evolução da consciência.

A nossa agora antiga Ordem Juvenil evoluiu, transformou-se na OGG - Ordem Guias do Graal, que está sendo implantada nas regiões SP1, SP2, SP3 e SP8, e até o final do ano em toda a Jurisdição de Língua Portuguesa. É um momento importante, histórico e precisamos muito de sua ajuda, pois ajustes e acompanhamentos serão necessários para sua efetiva aplicação.
A OGG traz muitas boas e interessantes novidades. Tem como proposta ser uma "escola" que trabalhe com os dois pilares menos valorizados pelo atual modelo escolar, "Aprender a Ser" e "Aprender a Conviver". Utiliza o simbolismo da Cavalaria, ligada ao maior mito da nossa cultura ocidental: o Graal. Por se tratar de uma tradição rica em símbolos, personagens e imagens são usados para representar cada um dos estágios de desenvolvimento de cada faixa etária.
A idéia é auxiliar o candidato por meio do desenvolvimento das virtudes, dentro de um contexto onde tanto o conteúdo dos ensinamentos quanto sua estrutura de alegorias ritualísticas sejam interessantes para os jovens.

A divisão em faixas etárias da OGG é a seguinte:

- Crianças: 6 a 7 anos - Guardiões do Castelo;
- Crianças: 8 a 10 anos - Escudeiros da Verdade;
- Pré-Adolescente: 11 a 13 anos - Fiéis Servidores;
- Adolescente: 14 a 16 anos - Cavaleiros da Perseverança;
- Jovem: 17 a 18 anos - Guias do Graal;

O calendário da OGG reflete os ensinamentos e o caminho que o jovem membro deve trilhar para alcançar sua evolução pessoal e auxiliar na evolução pessoal e auxiliar na evolução conjunta da humanidade.
Cada estação do ano tem um simbolismo próprio e, relacionado a ele, uma cor, um símbolo, um tema e uma correlação com alguns artigos do Código de Cavalaria (CODEX).
Estamos no Outono, tempo de colheita e abundância. Os dias ficam mais curtos e mais secos. As folhas e frutos, já bem maduros, começam a cair no chão. Os jardins ficam cobertos de folhas em tons amarelo e marrom. Na OGG é um período de colher os frutos do conhecimento adquirido nos estudos, transmitidos no âmbito de nossa Tradição. É tempo de reconciliação interior e honra aos nossos antepassados.
O tema desta nova estação que se inicia é "Honra", e o pilar "Aprender a Ser".
Pretende-se nesta estação, obviamente que contando com sua ajuda, levar os jovens a pensar sobre seus antepassados e seu futuro, ser verdadeiro consigo e com os demais, conhecer seus limites e perdoar aos outros e a si mesmo.
Somente poderá participar da Convocação Ritualística quem houver previamente passado pela alegoria de admissão "O Chamado" em um Organismo Afiliado da OGG. Todo e qualquer novo membro da OGG, independentemente da idade poderá passar por essa alegoria de admissão. Membros da AMORC (adultos), independentemente de cargo ou função também podem passar por essa alegoria. Pais e adultos responsáveis pelas crianças ou jovens buscadores inscritos na OGG, também podem passar por essa alegoria de admissão, mesmo não sendo membros da AMORC.

Procure nossa Secretaria e faça sua inscrição para o Ritual de Admissão "O Chamado".
Caminhe em busca da sabedoria divina do verdadeiro Cavaleiro Rosacruz!


Fraternalmente,

Ordem Guias do Graal da LSP

quinta-feira, 11 de abril de 2013

ORDEM DA ESTRELA DO ORIENTE




A Ordem da Estrela do Oriente é uma organização paramaçônica, fraternal onde fazem parte homens maçons e mulheres de bons princípios, com valores espirituais, mas não é uma religião, nem tão pouco uma sociedade feminista.
Tem como propósito através dos seus trabalhos ritualísticos, ressaltar valores morais, espirituais, edificar caráter, educar, fazer caridade e servir ao próximo.
Existem entre os seus membros um profundo elo fraternal, muito amor o que aproxima uns dos outros fazendo-os cada vez mais queridos entre si, sendo um privilégio poder servir seu próximo sempre que for preciso e possível.
Um dos grandes propósitos das Estrelas do Oriente é dar suporte a Ordem de Raibow Girls (Meninas do Arco-íris), preparando-as para uma vida de liderança dentro dos valores das Estrelas do Oriente.
A Ordem foi fundada em 1850 por Robert Morris que nasceu em Massachusetts, EE.UU. em agosto de 1818. Foi advogado e professor em várias Universidades, Mestre Maçom e Grão-Mestre do Estado de Kentucky.
A sociedade cresceu muito e hoje existem em vários países como: Estados Unidos, França, Inglaterra, Itália, Espanha, Alemanha, México, Panamá, Filipinas, Japão, Alasca, Porto Rico, Havai, Australia, Canada e outros, com aproximadamente 1.200.000 membros.
Para ser uma Estrela do Oriente é preciso ser esposa ou viúva, filha, filha adotiva, mãe, madrasta, irmã, neta, avó, bisavó, sobrinha, nora, sogra, ou cunhada de Maçcom regular.
É preciso ter no mínimo 18 anos de idade. Os principais requisitos para ser uma Estrela do Oriente são: acreditar em um ser supremo, ser pessoa de boa conduta moral, e ter consciência e irmandade para que a Ordem possa fluir com harmonia.
As reuniões são feitas em Templos Maçônicos ou salas capitulares. Para formar um Capítulo é preciso 18 membros sendo 16 senhoras e 2 Mestres Maçons, com patrocínio de uma ou mais Lojas Maçônicas regulares.
A Estrela do Oriente tem como propósito: através dos seus trabalhos ritualísticas:
·         educar;
·         edificar caráter;
·         ressaltar valores morais e espirituais;
·         fazer caridade e servir ao próximo; e
·         dar suporte a "Ordem Internacional das Filhas de Jó;.
As reuniões do Capítulo são mensais e, obrigatoriamente, acontecerão em um Templo Maçônico ou Salas Capitulares, pois a Ordem necessita ser apoiada por uma Loja Maçônica. No entanto o apoio será restrito ao que diz respeito às instalações. Por se tratar de uma Ordem de adultos o Capítulo se manterá por conta própria.
 
QUEM PODE SER INICIADO
Podem iniciar no Capítulo da Estrela do Oriente, esposas, filhas, noras, mães, irmãs, netas, bisnetas e viúvas de Mestre Maçom que esteja regular com sua Loja Maçônica e Maçom que esteja regular em uma Loja.
A idade mínima para poder ser iniciada é de 18 anos.
Os principais requisitos são:
·         acreditar em um ser superior;
·         ter boa conduta moral;
·         ter bom relacionamento de amizade, fidelidade e irmandade.
 
COMO INICIAR
A solicitação para iniciação deverá ser assinada pela candidata (o) e por mais dois membros do Capítulo, que a (o) recomendam, que terá, obrigatoriamente, que apresentar a regularidade. No caso de candidata, deverá ser apresentada a mesma documentação, incluindo a regularidade do Mestre Maçom cujo parentesco lhe permita a iniciação.
 
QUEM PODE ASSISTIR ÀS REUNIÕES DE UM CAPÍTULO
Só podem assistir às reuniões os membros iniciados no Capítulo e que estejam regulares nas suas Lojas Maçônicas. A perda do direito maçônico de qualquer Maçom, fará com este perca seus direitos no Capítulo, mesmo que esteja regular neste. A perda dos direitos do Maçom, não implicará na privação do direito do membro feminino, cujo parentesco exista.
 
COMO FORMAR UM CAPÍTULO
Para a formação de um Capítulo é necessário um grupo inicial não inferior a 18 membros, sendo no mínimo 16 do sexo feminino e 2 do sexo masculino (Mestre Maçom). Os documentos devem ser preenchidos e enviados ao Grande Capítulo Geral. Uma vez aprovado, um Delegado virá para presidir as eleições dos Oficiais e para realizar a Iniciação das candidatas e dos Maçons selecionados e suas instalações. Daí para frente o Capítulo passa a ter vida própria, podendo selecionar e iniciar os futuros membros. Cunhadas, Sobrinhas e Irmãos, venham fazer parte do Capítulo da Ordem da Estrela do Oriente.
Fonte: ordemdaestreladooriente.blogspot.com
 

domingo, 10 de março de 2013



JACOB BÖEHME

 

Pelo Amado Irmão Sephariel

 
Jacob Boehme nasceu em 1575 na pequena cidade de Alt Seidenburg, distante uma légua e meia de Gorlitz, na Alemanha. Seus pais, Jacob e Ursula, eram luteranos, simples e honestos. O primeiro emprego do pequeno Jacob foi de pastor de ovelhas em Lands-Krone, uma montanha nos arredores de Gorlitz. A única espécie de educação que teve foi recebida na escola da cidade de Seidenberg, que ficava a uma milha de sua casa. Aos catorze anos apren-deu o ofício de sapateiro. Em seguida, viajou pela Alemanha como artífice, sempre no mesmo ramo. Por volta de 1599, retornou a Gorlitz onde veio a ser um mestre em sua profissão. Ca-sou-se com Katherine Kuntzschmann, com quem teve quatro filhos, a um dos quais ensinou seu ofício. 

Relatou a um amigo que, durante o tempo de seu aprendizado, quando seu mes-tre estava ausente, viu entrar na sapataria onde trabalhava, uma figura de aspecto venerável, um estranho vestido de forma simples, querendo comprar um par de sapatos que já havia esco-lhido. Julgando-se incapaz de lidar com vendas, Boehme fez-lhe um preço muito alto, crendo que o estranho recusaria e ele não seria repreendido pelo dono, seu mestre. O comprador, en-tretanto, pagou o preço estipulado e se afastou. Após ter dado alguns passos para fora da ofi-cina, chamou com voz alta e firme: " Jacob! Venha cá! ". O jovem, a princípio assustou-se ao ouvir aquele desconhecido chamá-lo pelo nome de batismo, depois, decidiu atendê-lo. O foras-teiro, com ar sério mas amável, disse-lhe: "Jacob, você é ainda muito pequeno, mas será grande e se tornará outro homem, e será objeto da admiração de todos. Isto porque é piedoso, crê em Deus e reverencia sua Palavra, acima de tudo. Leia cuidadosamente as Santas Escritu-ras, nas quais encontrará consolo e instrução, pois sofrerá muito; terá de suportar a pobreza, a miséria e as perseguições; mas seja corajoso e perseverante, pois Deus o ama". Em seguida, fixando-o bem nos olhos, apertou-lhe a mão e se foi, sem deixar qualquer indício. 

Voltando a si do espanto, Boehme renunciou os prazeres da juventude folgazã e nunca mais abandonou a leitura das Santas Escrituras, tornando-se mais austero e mais atento a todos os seus atos. 

Boehme era de natureza humilde, sensível e contemplativa. Além da bíblia, es-tudou as obras de Paracelso e os tratados místicos de kaspar Schwenkfeld e de Valentin Wei-gel. Schwenkfeld e Weigel foram dois teólogos luteranos que romperam com a ortodoxia lute-rana para se dedicarem a uma doutrina mística. O primeiro foi fundador da seita dos Schwenkfelders que posteriormente veio a adotar as idéias de Boehme. Weigel, que havia sido influenciado pelas obras de Eckartausen, Teuler, Paracelso e do pseudo Dionísio, divulgava uma doutrina gnóstica de caráter panteísta. 

Desde cedo, Jacob Boehme entregara-se à crença em Deus com toda a simplici-dade e humildade de seu coração. Ao mesmo tempo em que era combatido, lutava, inconfor-mado, porque os outros não podiam conhecer a verdade. Seu coração simples solicitava e pro-curava, fervorosamente, praticar e aplicar-se ao amor pela verdadeira piedade, pela virtude, e a levar uma vida reclusa e honesta, privando-se de todos os prazeres da vida social. Por ser isto absolutamente contrário aos costumes de então, ele adquiriu vários inimigos.

Depois de ganhar a vida com o suor de seu rosto, como um laborioso trabalha-dor, no ano de 1600, quando tinha 25 anos, Boehme sentiu-se envolvido pela luz Divina.  

Estava sentado em seu quarto, quando seus olhos caíram sobre o prato de estanho polido que re-fletia a luz do sol com um esplendor maravilhoso. Isso levou Boehme a um êxtase inesperado e pareceu-lhe que a partir daquele momento podia contemplar as coisas na profundidade de seus fundamentos. Pensou que fosse apenas uma ilusão e, para expulsá-la de sua mente, saiu para o jardim. Mas aí observou que contemplava o verdadeiro coração das coisas, a autêntica grama, a verdadeira harmonia da natureza que havia sentido interiormente. Percebeu a sua essência, uso e propriedades, que lhe eram reveladas através das linhas e formas. Desta maneira compre-endeu toda a criação e mais tarde escreveu um livro sobre os fundamentos daquela revelação, intitulado "De Signatura Rerum". Boehme encontrou alegria no conteúdo daqueles mistérios, voltou para casa e cuidou de sua família, vivendo em paz e silêncio sem revelar a ninguém as coisas que lhe haviam sucedido.

Dez anos mais tarde, no ano de 1610 viu-se novamente invadido por aquela luz. Todavia, aquilo que nas visões anteriores lhe havia aparecido de modo caótico e multifacético, pode agora ser reconhecido como uma unidade, tal como uma harpa em que cada uma de suas cordas fosse, por si só, um instrumento separado, enquanto que o todo constitui a harpa. Agora reconhecia a ordem divina da natureza. Sentiu necessidade de por em palavras o que havia visto, para preservar suas recordações. Descreveu, então, o fato da seguinte maneira:

"Abriu-se para mim um largo portão e em um quarto da hora vi e aprendi mais do que veria e aprenderia em muitos anos de universidade. Por essa razão, estou profunda-mente admirado e dirijo a Deus minhas orações, agradecendo-lhe por isto. Porque vi e com-preendi o Ser dos seres, o Abismo dos abismos e a geração eterna da Santíssima Trindade, o descendente e origem do mundo de todas as criaturas, pela divina sabedoria: Soube e vi por mim mesmo os três mundos, ou seja, o divino (angelical e paradisíaco), o das sombras (que deu origem e natureza ao fogo) e o mundo exterior e visível (sendo à procriação ou o nasci-mento exterior tanto do mundo interior como do espiritual). Vi e conheci toda a essência do trabalho o mal e o bem original e a existência de cada um deles; e também como frutificou com vigor a semente da eternidade. E isso de tal forma que dela fiquei desejoso e rejubilei-me".

Para não esquecer a grande graça que acabara de receber e para não desobede-cer a um mestre tão santo e consolador, decidiu escrever em 1612, embora sua situação, finan-ceira não fosse boa e não possuísse um livro sequer, com exceção da Bíblia. Surgiu então seu primeiro livro: "Die Morgenrotte im Aufgang" (O vermelho Matutino), que foi posteriormente chamado por um de seus seguidores, o Dr. Balthazar Walter, de "Aurora". Este livro não foi mostrado a ninguém, a não ser a um cavalheiro muito conhecido, Karl von Endern, que se en-contrava por acaso em sua casa. Era desejo de Boehme que este livro jamais fosse impresso. Todavia, acabou por ceder à insistência de Endern, e lhe emprestou o livro. Mas este, dese-jando possuir esse tesouro oculto, separou e distribuiu as folhas a alguns amigos que se puse-ram a copiá-lo. Deste modo começaram a correr rumores que acabaram por chegar aos ouvi-dos do pastor de Gorlitz, Gregor Richers. Este, mesmo sem ter lido ou examinado o livro, condenou-o do púlpito quando pregava e, esquecendo completamente a caridade cristã, calu-niou e injuriou seu autor, a ponto de o magistrado de Gorlitz ser forçado a intimar Boehme a comparecer com o manuscrito.

Boehme compareceu, e perante os magistrados recebeu ordem de deixar a ci-dade imediatamente, sem mesmo ver a família e colocar os negócios em ordem. Submeteu-se a essa determinação, porém, desejava saber o que havia de errado com ele. Em resposta o pastor declarou que desejava vê-lo preso e longe da cidade.
 
Posteriormente, a ordem do magistrado foi revogada e notificaram Boehme de que poderia morar em Gorlitz e trabalhar em sua profissão, contanto que não escrevesse mais sobre assuntos teológicos, acrescentando: "Sutor ne ultra crepidam", isto é "O sapateiro não vai além das sandálias". 

Boehme esperou pacientemente que cessassem as denuncias (de 1613 a 1618), o que aconteceu; muito pelo contrário, recrudesceram; mas nem por isso deixou de orar por aqueles que o condenaram. Sentia-se infeliz em seu silêncio forçado. Tempos depois, refe-rindo-se a esse período diria que se comparava a uma semente que, oculta no seio da terra, desenvolvia-se apesar do mau tempo e das tempestades.

Santa e pacientemente, submeterasse ao veredicto que recebera e permaneceu sete anos sem escrever. Entretanto, um novo impulso de seu interior veio despertá-lo. Além disso, pessoas crentes e versadas nas ciências da natureza estimularam-no a continuar sua obra e a "não esconder a lâmpada debaixo da cama". Decidiu-se, então, a recomeçar a escrever e muitas obras surgiram: "Von der Drei Principien Gottliches Wesens" (Os Três Princípios da Natureza de Deus) em 1619; "Vom Dreifachem Lebem des Menchen" (A Vida Tríplice do Homem), "Vierzig Fragen von der Seele" (Quarenta Questões da Alma), "Von der Mens-chwerdug Jesu Christi" (A Encarnação de Jesus Cristo), "Von Sechs Theosophischen Punkten" (Seis Pontos Teosóficos), "Grundlicher Bericht von dem Irdischen und Himmlischen Mysterio" (Relato Metódico do Mistério Terrestre e Celeste) em 1620; "Von der Geburt und Bezei-chnung Aller Wesen" (O Nascimento e a Marca de Todas as Coisas), mais conhecido como "Signatura Rerum", em 1621; "Von der Gnadenwahl" (A Escolha da graça) em 1623; "Betrachtung Gottlicher Offenbarung" (Os Três Princípios da Revelação Divina) e "Der Wegzu Christo" ( O Caminho Para o Cristo) em 1624. 

Cada livro que Boehme escreveu marcou nele, segundo suas próprias palavras, o crescimento do "lírio espiritual", ou seja, o amadurecimento da vida, sempre para a Luz do Espírito, o "novo nascimento de Cristo". O "crescimento do lírio" está acontecendo sempre, é a triunfante auto-realização da perfeição de Deus; Boehme via o universo como um grande processo alquímico, uma retorta destilando perpetuamente os metais para transmutá-los em ouro celestial. 

O Dr. Balthazar Walter, que fez numerosas viagens durante sua vida, permane-cendo inclusive seis anos entre os árabes, os sírios e os egípcios, para aprender com eles a ver-dadeira sabedoria oculta, sustentava que havia encontrado alguns fragmentos dessa ciência aqui e ali, mas em nenhuma parte ela era tão profunda, tão pura, como a de Jacob Boehme, este homem simples, esta pedra angular rejeitada pelos sábios dialéticos e pelos doutores me-tafísicos da Igreja. Por isso deu-lhe o nome de "Philosophus Teutonicus" (Filósofo Alemão) tanto para distingui-lo das outras nações, como para evidenciar suas eminentes qualidades en-tre seus compatriotas, tendo em vista que fora sempre muito austero em sua conduta e sempre levara uma vida cristã, humilde e resignada. 

A morte de Boehme ocorreu em um domingo, 20 de novembro de 1624. Antes de uma hora, Boehme chamou Tobias, seu filho, e perguntou-lhe se não havia escutado uma maravilhosa música. Pediu-lhe, então que abrisse a porta do quarto, para que a canção celestial pudesse ser melhor ouvida. Mais tarde perguntou que horas eram, e quando lhe responderam que o relógio havia soado as duas horas disse: "Ainda não chegou a minha hora, mas dentro de três horas será a minha vez". Depois de uma pausa, falou de novo: "Ó Deus poderoso, salva-me, de acordo com Tua Vontade". E outra vez disse: "Tu Cristo crucificado, tem piedade de mim e leva-me contigo ao teu reino". Deu então, à sua esposa certas instruções com referência a seus livros e outros assuntos temporais, dizendo-lhe também, que ela não sobreviveria por muito tempo (como de fato ocorreu e, despedindo-se de seus filhos, disse: "Agora entrarei no Paraíso". Então pediu a seu filho mais velho, cujos olhos pareciam prender Boehme a seu corpo, que se virasse de costas e, com um profundo suspiro, sua alma abandonou o corpo, indo para a terra à qual pertencia; entrando naquele estado que só é conhecido por aqueles que fizeram da Iniciação, o motivo de sua existência. 

Fonte: Hermanubis

 

 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O QUE É RITO E O QUE É RITUAL

 
Por Kennyl Ismail
Rito e Ritual: costuma-se fazer grande confusão entre esses dois termos, principalmente na Maçonaria. Alguns acreditam serem sinônimos, outros que se trata de coletivo e unidade. Há ainda algumas explicações filosóficas complexas ou mesmo reflexões etimológicas sobre os termos, que, muitas vezes, mais complicam do que explicam.

Ao pesquisar sobre os termos na literatura maçônica, você pode se deparar com afirmações de que Rito é a teoria e Ritual é a prática. Ou que Rito é conteúdo e Ritual é forma. Ou que o Rito é um conjunto de graus, sendo que cada grau é um Ritual.

Em homenagem aos doutos do direito, os quais compõem parcela significativa dos membros da Ordem Maçônica, utilizemos de analogia com dois termos jurídicos para explicar o que é Rito e o que é Ritual. Pois bem, se Rito fosse lei, Ritual seria instrução normativa.

Um Rito é realmente como uma lei. É um conjunto de preceitos e obrigações gerais que produz efeitos sobre aqueles que estão sob seu alcance. Assim como uma lei, um Rito reflete princípios que o orientam, possui elementos históricos, além de buscar um objetivo específico. Para ilustrar essa afirmação, podemos utilizar o Rito Escocês Antigo e Aceito – REAA, devido à sua expressividade no cenário maçônico brasileiro. Da mesma forma que uma lei é desenvolvida com base em valores de uma determinada sociedade e normas éticas oriundas desses valores, o REAA tem por base os princípios de Fraternidade, Tolerância, Caridade e Verdade, conforme missão declarada do Supremo Conselho do Rito Escocês “Mãe do Mundo”. Assim como uma lei surge de uma demanda social presente em um contexto histórico específico para tratar de um conflito ou situação que necessite ordenamento, o REAA surgiu, em Maio de 1801, para trazer ordem ao caos em que se encontrava o Rito de Heredom nos EUA, com dezenas de diferentes autoridades conferindo os graus de diferentes formas. E assim como uma lei atende a um objetivo específico por meio de sua observância, o REAA tem por objetivo o desenvolvimento moral e espiritual de seus membros por meio de sua prática.

Já o Ritual é como uma instrução normativa, um manual de procedimentos que determina e regulamenta como essa lei deve ser praticada e observada. Uma lei pode ter várias instruções normativas, quando necessário. Como bem registrou Vincenzo Cuoco, “sem instrução, as melhores leis tornam-se inúteis”. Do mesmo modo, o Ritual é o manual de procedimentos que determina a prática do Rito, o qual pode ter vários rituais. E sem os rituais, não há como praticar o Rito. O Rito está morto.

Uma instituição que possui um sistema de ritos e rituais que podem colaborar para suas compreensões é a Igreja Católica. A Igreja possui vários ritos: Rito Ambrosiano, Rito Bracarense, Rito Galicano, Rito Bizantino, Rito Romano, etc. Cada um desses Ritos possui diferentes Rituais para sua prática: missa, batismo, crisma, casamento, natal, etc. E mesmo dentro de um Rito específico, como o Rito Romano, há variações nos Rituais, conforme país, movimentos, etc.

Retornado ao exemplo do REAA, algo similar ocorre, havendo Rituais diferentes de um mesmo grau conforme país e Obediência Maçônica. Assim sendo, ao contrário dos prejulgamentos inconsequentes de alguns maçons quando dizem que “o Rito Escocês deles é diferente do nosso”, ou ainda pior, “isso não é Rito Escocês”, a variação não é no Rito e sim nos Rituais. Essas diferenças nos Rituais são algo totalmente natural e esperado, e cuja única consequência negativa são as ofensas que a fraternidade sofre com tal ignorância e intolerância de alguns pelo que é diferente do que se está acostumado.

É também por esse motivo que o Ritual de Emulação é chamado de Ritual e não de Rito, pois se refere a um manual com textos e práticas específicas, que segue estritamente as diretrizes do sistema inglês, sistema esse que a Grande Loja Unida da Inglaterra opta por não chamar de Rito. Há na Inglaterra outros tantos rituais diferentes: Bristol, East End, Falcon, Goldman, Henley, Humber, Logic, Newman, Oxford, Paxton, Stability, Sussex, Taylor, Universal, Veritas, West End, etc. Porém, todos esses Rituais, assim como o de Emulação, como boas instruções normativas que são, também seguem as mesmas diretrizes da “lei” maçônica inglesa pós-1813.

O próprio Rito de York, o legítimo, norte-americano, não fica de fora de ter diferentes rituais. Há nos graus simbólicos diferentes versões do Ritual de Webb, além do Ritual de Duncan e tantos outros pouco conhecidos por grande parte dos maçons, mas todos provenientes do Antigo Rito de York.

Enfim, como registrado anteriormente, a existência de diferentes Rituais é algo natural e esperado em todos os Ritos Maçônicos. Entretanto, essas definições de Rito e Ritual, tão básicas e essenciais para a Maçonaria, infelizmente não estão presentes na educação maçônica convencional, cabendo a cada um de nós colaborar para que esse conhecimento seja compartilhado entre nossos Irmãos.
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