terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CARACTERÍSTICAS DO MISTICISMO

 O escritor Rufus Jones, no seu livro “The Trail of Life in the Middle Years” diz que a característica essencial do misticismo é “a realização da convicção pessoal do indivíduo de que espírito humano e Espírito divino finalmente se encontraram, descobriram-se e estão em correspondência mútua e recíproca como espírito com Espírito”.

Como explicado anteriormente o Misticismo é um mergulho na realidade espiritual em busca da reintegração com o Todo. Esse processo envolve toda uma sistemática, uma seqüência de ações para se chegar ao objetivo almejado.
Explicarei um pouco sobre os elementos dessa sistemática iniciando pelos RITUAIS;

Para os que não tem familiaridade com o seu significado, pode parecer que rito e rituais não passam de um pequeno teatro sem sentido. Nesse ponto a ignorância zomba de si mesma. Os rituais transformam por alguns momentos os ideais espirituais do místico em atos e objetos para representá-los objetivamente.
Os conceitos e crenças do místico são uma coisa, mas o método para experimentá-lo é outra bem diferente. Deparemos então com o realismo de nossa existência dual. De um lado a percepção de uma existência física e mortal, do outro a percepção do mundo inferior com o êxtase que ele proporciona. O elo que uni a percepção física e o mundo interior é conhecido como Self ou alma.

O ELEMENTO PSÍQUICO

O elemento psíquico é o próprio Self. No passado o Self era conhecido como a natureza interna do homem.
 Essa infusão psíquica é considerada pelos místicos a mais elevada força divina que agi no ser humano.

A PERCEPÇÃO PESSOAL

Outra característica do misticismo é que a experiência mística é sempre individual e de característica imediata onde o Self deve perceber diretamente sua relação total com a Unidade Cósmica. Resumidamente, só quando a conhecermos é que temos a Unidade Mística. E o indivíduo só consegue conhecer através de sua harmonização e atenção aquele Todo que ele concebe.
Muitos místicos renomados do passado foram seguidores devotados de seitas religiosas tradicionais. Num primeiro momento isso parece uma contradição dada as qualificações de um místico, e como as crenças tradicionais tem seus cleros, sacerdotes, quer dizer indivíduos que são considerados bem versados em seus dogmas e igualmente evoluídos, atuando como intermediários entre Deus e os adeptos dessas religiões. No entanto, uma leitura atenta da vida desses místicos revela que o clero não teve participação direta em suas experiências místicas.
Os grandes místicos que participavam da vida religiosa da sua comunidade eram estudantes ardorosos das escrituras sagradas com base nas suas crenças particulares e tiravam proveito da inspiração criada pela retórica e pelas pregações realizadas por esses religiosos.
Isso tudo serviu de incentivo para que eles alcançassem pessoalmente a necessária iluminação para atingir seus objetivos espirituais.

A FINALIDADE DO MISTICISMO

A finalidade real da unidade mística é a busca da proximidade com a Fonte Criadora de tudo que existe. O verdadeiro místico é aquele que percebe que o Self (alma) é o elemento de integração dos níveis de consciência e percepção.
 Todo místico deve trabalhar incansavelmente para subir os degraus da escada evolutiva da sua consciência, não apenas para alcançar os estados mais elevados de consciência, mas para regenerar os níveis inferiores da mente através de um influxo momentâneo que chamamos de Iluminação Cósmica.

Próxima postagem: O ESTUDANTE DE MISTICISMO

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

HISTÓRIA DO NATAL

Postado em 16/12/2010
Origem do Natal e o significado da comemoração
O Natal é uma data em que comemoramos o nascimento de Jesus Cristo. Na antiguidade, o Natal era comemorado em várias datas diferentes, pois não se sabia com exatidão a data do nascimento de Jesus. Foi somente no século IV que o 25 de dezembro foi estabelecido como data oficial de comemoração. Na Roma Antiga, o 25 de dezembro era a data em que os romanos comemoravam o início do inverno. Portanto, acredita-se que haja uma relação deste fato com a oficialização da comemoração do Natal.

As antigas comemorações de Natal costumavam durar até 12 dias, pois este foi o tempo que levou para os três reis Magos chegarem até a cidade de Belém e entregarem os presentes (ouro, mirra e incenso) ao menino Jesus. Atualmente, as pessoas costumam montar as árvores e outras decorações natalinas no começo de dezembro e desmontá-las até 12 dias após o Natal.

Do ponto de vista cronológico, o Natal é uma data de grande importância para o Ocidente, pois marca o ano 1 da nossa História.

A Árvore de Natal e o Presépio
 Em quase todos os países do mundo, as pessoas montam árvores de Natal para decorar casas e outros ambientes. Em conjunto com as decorações natalinas, as árvores proporcionam um clima especial neste período.

Acredita-se que esta tradição começou em 1530, na Alemanha, com Martinho Lutero. Certa noite, enquanto caminhava pela floresta, Lutero ficou impressionado com a beleza dos pinheiros cobertos de neve. As estrelas do céu ajudaram a compor a imagem que Lutero reproduziu com galhos de árvore em sua casa. Além das estrelas, algodão e outros enfeites, ele utilizou velas acesas para mostrar aos seus familiares a bela cena que havia presenciado na floresta.

Esta tradição foi trazida para o continente americano por alguns alemães, que vieram morar na América durante o período colonial. No Brasil, país de maioria cristã, as árvores de Natal estão presentes em diversos lugares, pois, além de decorar, simbolizam alegria, paz e esperança.

O presépio também representa uma importante decoração natalina. Ele mostra o cenário do nascimento de Jesus, ou seja, uma manjedoura, os animais, os reis Magos e os pais do menino. Esta tradição de montar presépios teve início com São Francisco de Assis, no século XIII. As músicas de Natal também fazem parte desta linda festa.

O Papai Noel : origem e tradição

Estudiosos afirmam que a figura do bom velhinho foi inspirada num bispo chamado Nicolau, que nasceu na Turquia em 280 d.C. O bispo, homem de bom coração, costumava ajudar as pessoas pobres, deixando saquinhos com moedas próximas às chaminés das casas.

Foi transformado em santo (São Nicolau) pela Igreja Católica, após várias pessoas relatarem milagres atribuídos a ele.

A associação da imagem de São Nicolau ao Natal aconteceu na Alemanha e espalhou-se pelo mundo em pouco tempo. Nos Estados Unidos, ganhou o nome de Santa Claus, no Brasil de Papai Noel e em Portugal de Pai Natal.

A roupa do Papai Noel 

Até o final do século XIX, o Papai Noel era representado com uma roupa de inverno na cor marrom ou verde escura. Em 1886, o cartunista alemão Thomas Nast criou uma nova imagem para o bom velhinho. A roupa nas cores vermelha e branca, com cinto preto, criada por Nast foi apresentada na revista Harper’s Weeklys neste mesmo ano.

Em 1931, uma campanha publicitária da Coca-Cola mostrou o Papai Noel com o mesmo figurino criado por Nast, que também eram as cores do refrigerante. A campanha publicitária fez um grande sucesso, ajudando a espalhar a nova imagem do Papai Noel pelo mundo.

Curiosidade: o nome do Papai Noel em outros países

- Alemanha (Weihnachtsmann, O "Homem do Natal"), Argentina, Espanha, Colômbia, Paraguai e Uruguai (Papá Noel), Chile (Viejito Pascuero), Dinamarca (Julemanden), França (Père Noël), Itália (Babbo Natale), México (Santa Claus), Holanda (Kerstman, "Homem do Natal), POrtugal (Pai Natal), Inglaterra (Father Christmas), Suécia (Jultomte), Estados Unidos (Santa Claus), Rússia (Ded Moroz).

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

MISTICISMO


Antes de apresentar a minha definição pessoal sobre o termo Misticismo, termo esse tão vilipendiado, menosprezado, incompreendido pelos incautos e céticos com necessidade de auto-afirmação, apresentarei primeiro o que o misticismo não é;
Misticismo não é a busca desenfreada por poder.
Misticismo não é um conjunto de passes mágicos onde você pronuncia nomes que ninguém entende (nem mesmo você), movimentos de braços fazendo desenhos de pentagramas no ar para trazer do nada alguma coisa para satisfazer seu ego exibicionista.
Misticismo não é invocação de demônios, pacto com seres maléficos, bodes, cabras, marreco, periquito ou borboleta.
E de uma vez por todas NÃO HÁ INVOCAÇÃO DE ESPÍRITOS.

O misticismo é um mergulho na realidade espiritual, é um meio que tem a união com Deus de nosso coração e da nossa compreensão como meta final. Reintegrar ao Criador é a meta, isso por si só explica o que é o misticismo. Sem passes de mágica, sem exageros, nomes incompreensíveis ou absurdos.

Essa palavra muito usada hoje em dia serve de desculpa para muitas formas de ocultismo, transcendentalismo difuso, simbolismo insípido ou metafísica medíocre.
Cabe a todo estudante sério devolver essa palavra ao patamar a que lhe pertence, o de ser considerada ciência e arte da vida espiritual.

A palavra misticismo propriamente dita, vem do grego mystes. Designa uma pessoa admitida a uma gnose ou ao conhecimento das realidades da vida e da morte.
Por meio de suas técnicas o místico busca respostas para “conhecer a si mesmo” e para o desenvolvimento de suas faculdades psíquicas adormecidas.

Considero o misticismo como a expressão da inclinação inata da consciência humana, uma harmonia de ordem transcendental. Qualquer que seja formula, mesmo as teológicas podem ser usadas para exprimir essa ordem.

O verdadeiro místico estuda as Leis Divinas, aplica-as no seu dia a dia, dominando sua vida, alcançando sua finalidade na experiência da “União Mística”. A essa finalidade denominamos Deus na cristandade, Alma Universal no panteísmo ou do Absoluto na filosofia. O desejo de alcançar essa união e o movimento em sua direção é realizado por meio de um processo disciplinar sincero, contínuo e rigoroso, não uma mera especulação intelectual.

Desta forma, o misticismo se distingue da religião por referir-se à experiência direta e pessoal com o Criador, sem a necessidade de intermediários ou de uma Teologia.
A crença que tal experiência é uma fonte importante de conhecimento, entendimento e sabedoria.

O misticismo explica que o homem tem uma existência física e o que ele deve fazer para que essa existência mereça ser vivida. E é nesse sentido que o misticismo torna-se um estudo prático.


Paz Profunda e que o Divino Reparador dos mundos nos proteja sempre.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

IRA

A Ira é um pecado capital. É o intenso e descontrolado sentimento de raiva, ódio, rancor que pode ou não gerar sentimento de vingança, o mal uso da energia agressiva de Marte que tem como Virtude cardeal a Diligência, ou seja, a capacidade de guiar a energia e a capacidade de produzir de maneira efetivamente produtiva. É um sentimento mental que conflita o agente causador da ira e o irado.

A consciência comum cristã costuma, sempre que se fala de ira, ter em mente apenas o aspecto da intemperança, o elemento desordenador e negativo. Mas tanto como 'os sentidos', e a 'concupiscência', a ira pertence às máximas potencialidades da natureza humana. Essa força, isto é, irar-se, é a expressão mais clara da energia da natureza humana. Conseguir uma coisa difícil de alcançar, superar uma contrariedade: eis a função desse apetite sempre pronto a entrar em campo quando um bonum arduum, 'um bem difícil' deva ser conquistado. Daí a afirmação de São Tomás: 'A ira foi dada aos seres dotados de vida animal para que removam os obstáculos que inibem o apetite concupiscível de tender aos seus objetivos, seja por causa da dificuldade de alcançar um bem, seja pela dificuldade de superar um mal' (I-II, 23, 1 ad 1). A ira é a força que permite atacar um mal adverso (I-II, 23, 3); a força da ira é a autêntica força de defesa e de resistência da alma (I, 81, 2).
A ira torna a pessoa furiosa e descontrolada com o desejo de destruir aquilo que provocou sua ira, que é algo que provoca a pessoa.
Segundo a Igreja Católica, a ira não atenta apenas contra os outros, mas pode voltar-se contra aquele que deixa o ódio plantar sementes em seu coração. Seguindo esta linha de raciocínio, o castigo e a execução do causador pertence a Deus.

Ela é um dos pecados mais intensos. É um misto de ódio, raiva e rancor que algumas vezes pode levar ao desejo de vingança. A Ira é ligada a destruição, pois faz com que o irado fique descontrolado e queira literalmente acabar com o causador de sua ira. A sua origem pode vir do desejo de perfeição, da meticulosidade, do descaso, por algum insulto seja qual for, de alguma desilusão. A ira cresce sem tamanho no ser - e como qualquer pecado é caracterizada pelo excesso.

Detectada pelo mau-humor, expressão facial e atos descabidos. A ira tem o poder de levar a irado a agir sem pensar e a cometer atos cruéis. A ira costuma ser breve, e caso isso não passe pode ser diagnosticada como ódio profundo.
No fundo a ira esconde o medo de errar, de ser contrariado, de perder espaço, de ser invadido, conduzido, persuadido, de não saber se expressar etc.

Seja lá o que for, a ira é capaz de nascer em qualquer ser humano. E não há um que não tenha tido - por mais breve que fosse - um momento de ira. A ira nasce como um tufão e some tão rápido quanto veio. Não há mal em sentir-se irado uma vez ou outra, porque de fato há dias que não estamos bem. Da mesma forma que há aqueles que pisam em nossos calos. Sejamos sensatos, há os maléficos seres capazes de te irritar seja lá por qual motivo. O irado mostra constantemente uma imensa necessidade de auto-afirmação, pois com sua autoestima baixa, ele pensa tem que provar a todos o quanto é bom e que deve ser respeitado. Que sabe que é bom e competente não precisa provar nada a ninguém, pois suas ações são um exemplo de conduta e de um desejo sincero de se reintegrar a Luz Maior.

São Tomás de Aquino mostra assim as filhas da Ira:
Insulto – uma forma de violência verbal, na qual o interlocutor visa ofender ou agredir moralmente o atacado, atingindo algum ponto fraco para humilhar o outro.
Perturbação – agitação física e psíquica produzida por emoções intensas e acumuladas. Um dos maiores problemas na psicologia, a tensão das emoções acumuladas pode gerar todo tipo de problema no organismo.
Indignação – sentimento de ira em relação a uma ofensa ou ação injusta.
Clamor – queixa ou súplica em voz alta, reclamação, gritos tumultuosos de reprovação. Quando a Ira extravasa de uma pessoa para um grupo, como se fosse uma entidade viva (na verdade, astralmente, o Clamor É uma entidade viva, manifestada pelas Fúrias).
Rixa – briga, desordem, contestação, tumulto. A Rixa tem ligação com o Orgulho
Blasfêmia – difamação do nome de um ou mais deuses. A Ira voltada para dentro de si mesmo.

Assim termino a apresentação dos pecados capitais baseado nos ensinamentos de São Tomás de Aquino.

Que a Divina Sophia ilumine a todos.

Amém

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

AVAREZA

O Pão-duro, mão de vaca, mão fechada, são algumas das expressões mais populares para dizer que alguém é dominado pela avareza. Mas qual é o real significado desse pecado que traz infelicidade para muitos que vivem em função dele?

A avareza se define pelo apego excessivo a alguma coisa, o que leva a pessoa a ter um grande medo de que alguma coisa vá faltar. Há uma constante ilusão de escassez. Avaro, etimologicamente, é ávido de dinheiro (avidus aeris, "de cobre") e, em grego, avareza, significa amor à prata. Assim, é um pecado capital, porque denota sobre um bem muito valorizado pelo homem desde os primordios; o dinheiro.

Não devemos confundir avareza com ambição. O ambicioso se arrisca no mundo. Já o avarento não quer correr riscos. Ele desconhece palavras como generosidade, partilha e justiça, pois o avaro não se atreve a gastar nem sequer consigo.

No lado mais extremo do pecado, a pessoa avarenta tem muito medo da vida. Acha que, a qualquer momento, algo ruim pode acontecer ou faltar. É importante que ela esteja presa, guardada, dentro de uma cápsula, para que não se exponha a riscos. O sofrimento chega a tal ponto que muitas pessoas procuram ajuda psicológica.

Guardar dinheiro faz bem, mas que deve haver limites. Poupar uma quantia para realizar uma atividade que se deseja muito significa ser organizado, econômico e ter um objetivo.
Na visão de Paulo de Tarso, a avareza vai contra tudo o que o evangelho traz na Bíblia. “A mensagem que Cristo traz pra nós é para que tenhamos bondade, generosidade e para sermos solícitos com nosso próximo. E a avareza vai contra tudo isso, porque o avarento só tem olhos pra ele mesmo e para seus próprios bens”, explica. Ele diz ainda que o pecado não está em controlar o dinheiro e administrar os bens. “Cristo não disse para não termos riqueza, mas sim para não sermos escravos dela”, afirma.

O avarento é uma pessoa cujos olhos passaram por uma transformação: eles só vêem coisas e pessoas através do dinheiro. Todos os seus sentidos estéticos e éticos foram destruídos. Beleza, ternura, amor, honestidade, justiça – essas coisas não entram na sua contabilidade.
Por que o avarento se entrega ao amor ao dinheiro? Porque ele sabe que o dinheiro é um deus que tem poderes para operar as mais fantásticas transformações.

A avareza é uma doença e afeta todos os setores da vida, do trabalho até suas finanças, o que poderia ser riqueza na verdade não passa de “pão - durismo”, mas sua vida pessoal é a mais prejudicada, acontece de forma lenta e silenciosa, inicia-se por um isolamento social até chegar um dia que a pessoa se vê só, os filhos já cresceram, o casamento quando ainda existe é sem desfrutes e vazio chegando mesmo a ser insuportável, amigos não os tem e sim oportunistas. O resultado de tudo isso enxergamos em sua saúde. Problemas como pressão alta, cardiovasculares e obesidade são mais fáceis se manifestarem em situações de stress causados por dinheiro.


Sto. Thomas de Aquino determina 7 (sete) características inerentes como sendo as filhas da Avareza:
Traição                                              Fraude                                   Mentira
Perjúrio                                             Inquietude                             Violência
Dureza de Coração

domingo, 28 de novembro de 2010

LUXÚRIA

Por definição de dicionário, a Luxúria é a libertinagem, a lascívia, a exuberância, a sensualidade.
Desde a época da Grécia antiga, as pessoas tem interesse no sexo livre e sem restrições. Os festivais do deus Baco eram concorridos por este motivo porque nestes festivais denominados Bacanais os bacantes podiam beber, jogar e buscar o prazer, sem precisar se preocupar com mais nada além de seus próprios desejos e vontades.
Entendemos a Luxúria como uma exuberância dos sentidos, da sexualidade, uma embriaguez do corpo e da alma das sensações
Percebemos que a Luxúria, em nossa época, é freqüentemente confundida com a Gula. A Gula como prazer primário, é a compulsão, avidez pelo prazer que a troca com o outro traz. O pecado da Gula é a busca desmedida que o prazer nos leva, sem levar em conta a qualidade. O sofisticado pecado da Luxúria é uma orgia do sentir com grande refinamento sensual. Necessita de tempo, qualidade, magia dos sentidos, liberdade de criação e abundância que é a condição de quem não tem medo da falta. Condição que o estressado homem atual está longe de possuir.
Parece que a sociedade atual só tem referência do que seja Luxúria no sentido visual ou mental, pois nesses campos está em um apogeu dado pelas inebriantes imagens de fotografias, da televisão, das propagandas e do cinema. Mas, como levar essa Luxúria a nível do corpo, do sentir em geral, é algo muito distante para o homem comum.A sociedade grega parece que conheceu a liberdade de usufruir das delícias da sensualidade, do corpo, da mente e da essência da vida. É possível que nos seus banquetes, houvesse sensualidade e estímulos suficientes para que os homens gregos e suas mulheres sucumbissem ao pecado da Luxúria.
Hoje, compra-se um pacote para praias baianas, para o Caribe ou Ilhas Gregas na ilusão que se obterá um pouco de Luxúria e isso “faz bem pra pele”. Poucos na verdade sabem se abrir aos orgasmos que a natureza, a comida, um cheiro, um banho, uma idéia ou o corpo do parceiro pode oferecer. Como nos ensina a cozinha francesa, um clássico exemplo da luxúria do paladar, é preciso se entregar às nuanças do inesperado, às sutilezas sensoriais da qualidade e as altas voltagens do prazer que só freqüências delicadas podem propiciar.
A maioria dos turistas voltam dos santuários paradisíacos com a sensação de ter comprado “gato por lebre”, uma sensação de frustração de não ter reconhecido ou usufruído da embriagante luxúria das mulheres nativas
O homem atual, que como a Formiga de Esopo, apenas vê e imagina a Luxúria. Não corre o risco, no entanto, de cometer o pecado porque sua vida está aquém da condição de ser possuído pela Luxúria.
 Ao contrário do que as pessoas pensam sobre os cristãos, eles não vêem o sexo como uma coisa ruim ou apenas tolerável.  Sexo não é apenas uma maneira de as pessoas engravidarem, mas também uma intensa prazerosa e apaixonada manifestação de amor.
O ato sexual é algo profundamente significativo e, se for mal administrado, seus efeitos podem ser devastadores.
A luxúria é poderosa e sedutora, é naturalmente egoísta e oposta ao amor. Quando alimentamos e cultivamos a luxúria em nossa vida, somos arrastados inevitavelmente à solidão, insegurança, vazio e isolamento. O que nos resta quando o orgasmo se torna insatisfatório e cansativo, deixando apenas o sentimento de culpa, dor e solidão?
Se substituirmos a luxúria pelo amor, acabaremos com uma sensação insignificante que eventualmente perde a graça, e que não satisfaz nada mais que fisicamente.
São Thomas de Aquino determina 8 (oito) características inerentes como sendo as filhas da Luxúria:

Cegueira da Mente                          Amor de Si                            Ódio de Deus
Apego ao Mundo                             Inconstância                          Irreflexão
Precipitação                                      Desespero em relação ao mundo futuro

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

GULA

Comer não é pecado, mas o excesso, a glutonaria ou gula, sim. No sentido literal, a gula é exatamente o excesso de comer e beber. Sua principal característica é engolir e não digerir. Na sua simbologia maior, significa voracidade.
A gula é a má alimentação em todos os aspectos, é a ganância no ato de comer, a mesquinharia na hora de compartilhar um alimento. A gula é o somatório de tudo de prejudicial que a alimentação pode causar, até levar o guloso a morte física através do excesso na ingestão dos alimentos.

É um comportamento compulsivo viciante e dificilmente resistíveis. A gula é compensatória, primitiva. O prazer oral é o primeiro prazer que experimentamos, o que o torna difícil de resistir. Também é um recurso para abafar uma frustração qualquer, por isso muitas vezes comemos chocolate compulsivamente para compensar uma decepção amorosa ou uma perda qualquer. Para muitos psicólogos, a gula é um problema social. Podemos comer de tudo, mas em porções pequenas, sem exagero ou excesso. As pessoas acabam comendo pelo que elas estão vendo, pela beleza, por ver a mesa farta e não pela própria necessidade de comer. Guardada as suas devidas proporções eu encararia a gula como uma espécie de cleptomania, fazendo um paralelo entre roubo por prazer e comer pelo prazer, pela satisfação, pelo vício, e não só pela necessidade.

A gula surgiu ha muito tempo atrás, onde o exagero humano em querer usufruir mais e mais dos prazeres dos sentidos os fez criar a dependência pelo alimento. Desde que a comida humana começou a ser mais valorizada em rituais e cultivada e explorado como negócio entre as pessoas que trocavam o que produziam e inventavam como forma de alimento, esse novo habito chamado de habito alimento, fez com que as pessoas se viciassem em comer sem cessar, experimentando e ingerindo tudo para sentir o prazer dos diferentes paladares que criavam. Com o tempo, houve uma fartura na produção de alimentos e os donos de terras começaram a produzir diferentes plantios fazendo pesquisas e misturas, para então comercializar entre os consumidores. Este cultivo deu inicio a um mal alimentar que estamos metidos atualmente, porém sem consciência desse mal. Quanto mais coisas são colocadas à disposição para as pessoas comerem, mais elas vão querer comer para satisfazer suas insaciáveis gulas. Existiu um tempo onde a comida era tão valorizada que comer era considerado um ato sagrado e por isso as pessoas comiam até morrer! Nos Impérios antigos, nas ceias oferecidas pelas cortes, as pessoas comiam e depois tinha que vomitar o alimento até terem ingerido tudo o que havia na mesa. Não vomitar era considerado desfeita a ceia. O ato de comer dos humanos já passou por várias fases, mas por não ser um processo natural, este habito é considerado um pecado mortal quando é feito em exagero.

Nas festas Romanas, a prática da gulodice era uma constante, pois os romanos eram um povo festivo e que freqüentava mais de uma festa no mesmo dia. Caso não se comesse da fartura oferecida pelo anfitrião, seria uma ofensa. Na época do Renascimento, comer muito significava uma idolatria que afastava as pessoas de Deus. Mas será que nos dias de hoje estamos muito longe disso?
Gula é comer além do necessário para se alimentar. Para alguns, o prazer de comer passou a ser um fim em si mesmo; esse é o erro. E se frustram quando a refeição não é “suculenta e variada”.

A virtude oposta à gula é a temperança: evitar todos os excessos no comer e no beber.
Como remédio contra a gula a Igreja propõe também o jejum; não como um valor em si mesmo, mas como um instrumento para dominar a paixão.
Existe ainda a “Gula Intelectual”, a gente sente que está funcionando abaixo da nossa capacidade, que podíamos dar mais, e aí buscamos uma compensaçãozinha, queremos aprender tudo, abraçar o mundo com as pernas, monopolizar as atenções, ouvir as pessoas dizendo que você é muito inteligente, muito culto. E você volta a rir novamente.
Hoje em dia com o advento da Internet muito se copia na ânsia de obter conhecimento mas pouco se aproveita e muita vezes nem lemos o que copiamos. Acredite, aconteceu comigo, já baixei um total de 8 e-books e não li nenhum, mas eles estão lá esperando um motivo para que eu consiga lê-los.

Muitas vezes com alto-estima baixa, nos sentimos feios, gordos, sem graça, não somos ricos então resolvemos ser cultos e inteligentes. Debruçamos sobre os filósofos, lemos os grandes escritores, e depois de adquirir uma quantidade grande de conhecimento olhamos os mortais comuns e nos sentimos superiores no alto de nossa torre de marfim, sendo reconhecido pela família como fenômeno exibido nas reuniões de família.
São Thomas de Aquino determina 5 características inerentes como sendo as filhas da Gula:

Loquacidade Desvairada                Imundície                  Alegria Néscia
Expansividade Debochada              Embotamento

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

INVEJA

O conceito da palavra inveja, contida no dicionário Aurélio, é muito interessante. “Desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. Desejo violento de possuir o bem alheio.”
Inveja. Um dos sentimentos mais complicados e difíceis de serem eliminados da alma humana. E que mais causa sofrimento à humanidade. Onde houver apego à materialidade das coisas, naquilo que o objeto de desejo simboliza em termos de bem-estar e status quo, aí estará a inveja. A cobiça é o seu moto-contínuo.
Há pessoas que se colocam como cães de guarda, sempre alertas ao menor ruído. Basta alguém se destacar em alguma área, por mais ínfima que seja e lá estará o invejoso, pronto para apontar o dedo e tentar minimizar o feito de seu próximo. Uma roupa diferente, um calçado da moda ou mesmo um simples brinco ou pulseira bem colocados, já se torna motivo para elogios, nem sempre sinceros. As mulheres, e que me perdoem as mulheres, elas são pródigas nesse tipo de expediente.
É necessário, contudo, diferenciar a inveja, a cobiça, da busca do bem-estar. Não há nada de errado em trabalhar para se conquistar o conforto necessário à subsistência e às condições materiais imprescindíveis, visando o aprimoramento e a eficiência em determinada atividade, sem causar prejuízo ao próximo. Se alguém possui um objeto ou uma virtude que nos falta, desejá-los com humildade e sinceridade não é inveja.
Porém ela surge, graciosa e sedutora, quando sentimos uma sensação de perda, um vazio não preenchido pelo objeto de desejo, principalmente quando, numa formulação mental mesquinha e destrutiva, nos consideramos muito mais dignos do que aquele que possui o que não temos.
A inveja é o mais dissimulado dos sentimentos humanos, não só por ser o mais desprezível, mas porque se compõe, em essência, de um conflito insolúvel entre a aversão a si mesmo e o anseio de autovalorização, de tal modo que a alma, dividida, fala para fora com a voz do orgulho e para dentro com a do desprezo, não logrando jamais aquela unidade de intenção e de tom que evidencia a sinceridade.
Confessamos ódio, humilhação, medo, ciúme, tristeza, cobiça. Inveja, nunca. A inveja admitida se anularia no ato, transmutando-se em competição franca ou em desistência resignada. A inveja é o único sentimento que se alimenta de sua própria ocultação.
O homem torna-se invejoso quando desiste intimamente dos bens que cobiçava, por acreditar, em segredo, que não os merece. O que lhe dói não é a falta dos bens, mas do mérito ou reconhecimento. Daí sua compulsão de depreciar esses bens e substituí-los por simulacros maiores, mais caros mais pomposos. E aos olhos dos incautos o tornaria mais importante ou superior. É precisamente nas dissimulações que a inveja se revela da maneira mais clara.
O invejoso não suporta ver um novato invadir espaços que ele, em sua santa indolência, deixou de ocupar por pura incompetência e comodismo. Se sente atingido, usurpado e se agarra, com unhas e dentes, ao espaço que ele acha que é seu e somente seu. Uma sutileza interessante, já que o homem pré-histórico, movido pelo instinto brutal, destroçava o seu algoz, a fim de se apropriar de seus pertences. O tempo passou, a evolução se processou como convém à estrutura das leis naturais, mas o princípio permanece o mesmo. O invejoso passa para o boicote, vai minando com fofocas e pequenas atitudes estrategicamente montadas, a fim de destruir o novo trabalhador da Doutrina. E provar, ao menos para si mesmo, que o espaço é dele, e somente dele. Assim se sente feliz na sua própria ignorância e sentimento de inferioridade. A inveja já “derrubou” grandes profissionais nas empresas devido a falta de capacidade de alguns colegas e a deficiência de perspicácia dos empreenderes.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ACÍDIA

É interessante observar o quão superficial nos são passados os ensinamentos bíblicos. A leitura aprofundada que fiz para escrever essas poucas linhas sobre um assunto tão vasto me mostrou um outro mundo no que diz respeito aos Pecados Capitais. A Acídia ou preguiça é um daqueles pecados que deveríamos confessar todos os dias. A acídia tem uma dimensão muito maior do que a preguiça, eu ousaria até a dizer que ela não é um simples pecado, mas uma condição. É a negação do movimento, a inércia no que diz respeito ao crescimento pessoal. É aquela tristeza do coração que impede o homem de manifestar as glórias do Pai, impedindo-o de realizar a tarefa para a qual ele foi criado. Nas aulas de catecismo nos mostram a idéia de que ela é apenas um desânimo ou falta de interesse de concretizar algo proposto. Em relação a isso, informo aos caríssimos leitores que historicamente devemos atribuir aos primeiros monges do século IV, especialmente a Santo Antão e São Pacômio as fantásticas descobertas da alma que hoje nos servem como referência aos estudos do ser e o papel da alma na nossa caminhada evolutiva. Posteriormente homens como São Gregório Magno que graças a uma excepcional inteligência e enlevo espiritual investigou a fundo essas descobertas e relacionou os sete principais vícios a que todos nós somos suscetíveis, dando a esses princípios o nome de Sete Pecados Capitais. Capitais porque cada um deles tem a capacidade de atrair uma infinidade de outros pecados. Os conhecemos como a vaidade, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e preguiça ou acídia.

Não é de se estranhar que a idéia de pecado nos acompanha desde a infância quando nas aulas de catecismo nos são apresentados os Sete Pecados Capitais. “Jesus morreu na cruz para nos salvar” dizem os catequistas. Já nascemos culpados e devendo. O pecado anda de mãos dadas com a idéia de contravenção. Na psicologia ele é interpretado como uma falta de bom senso ou incoerência sobre o nosso modo de viver e os dogmas religiosos.
Os Pecados Capitais sempre foram e acredito que sempre serão motivo de controvérsias e discussões entre religiosos e aqueles que estão longe de se converterem a algum credo. E a Acídia como já citei não é apenas um pecado e sim uma condição, é um estado da alma decorrente a contemplação de si mesmo e do mundo em que vivemos. Quando contemplamos a nos mesmos a alma indaga sobre o sentimento das coisas e distingue entre a realidade e a atualidade, assuntos exaustivamente explicados em profundidade nos ensinamentos rosacruzes. Quando a mente desperta para a noção de realidade inconsciente passa a reagir de modo a fugir dela. O francês Blaise Pascal se refere a isso quando diz que “o homem não consegue ficar sozinho consigo mesmo num quarto”. A profunda contemplação de si mesmo pode levar o indivíduo a duas situações opostas. Uma delas é um estado de grande euforia e arrebatador entusiasmo. Isso porque, ao analisar as coisas ao redor, a alma chega à conclusão de que o mundo – criado por Deus, que é o perfeito Bem e só pode dar origem a coisas boas – é maravilhoso demais. O Universo infinito com astros cintilantes, a água cristalina, a delicada flor, os olhos de uma criança, o amor de Deus: tudo é indescritível e extraordinariamente belo, e a consciência disso produz uma alegria igualmente indizível.
Entretanto, conhecer-se profundamente provoca outra situação – o desespero. O homem se vê só, destituído de tudo o que possa disfarçar sua condição, considerando-se um ser insignificante diante do mundo infinito, sem saber de onde veio, para que veio e para onde vai. O resultado é a tristeza, a depressão, a inatividade, a angústia. “Isso acontece porque, como ensina Tomás de Aquino, o homem, como criatura de Deus, procede do nada, Deus o criou do nada”. “Em si ele é treva. Só é luz na medida em que participa do ser de Deus.” Dada essa capacidade de fazer a alma transitar da euforia à depressão.
Baseado nesse pensamento podemos perceber a perspicácia de Pascal ao notarmos que criamos uma série de atividades quando estamos parados pensando em nós mesmos e na nossa condição humana. Para os católicos a Preguiça representa o sétimo pecado capital. Pecado esse que é muito mais da alma que resiste a ser crédula, do que do corpo que não quer sair da letargia, da falta de compromisso, do crescimento, do movimento e da pró-atividade. Muito além do conceito religioso, podemos analisar a Acídia como a negação do movimento que automaticamente leva o indivíduo ao fracasso, sem nos darmos conta de que estamos provocando uma auto-sabotagem, sendo protagonista de nossas mazelas, seguimos insatisfeitos e cegos pela impossibilidade de conquistar nossos objetivos, culpando tudo e a todos pelas intempéries da vida e a nossa falta de auto-estima.
Quanto a outros sentimentos como a luxúria e a avareza que são bem entendidos por assim dizer, pela maioria dos cristãos a acídia passou despercebida, e somente após a Revolução Industrial do Século XVIII, que passou a ser mal traduzida para palavra preguiça.

Se nos reportarmos aos monges João Cassiano que viveu no século V e a Gregório Magno no século VI com o intuito de pesquisarmos sobre as origens da doutrina dos Sete Pecados Capitais veremos que eles têm em comum, uma visão da realidade mais concreta. Ambos estudaram os nossos vícios, fazendo surgir à doutrina dos pecados capitais que posteriormente foi formatada por São Tomás de Aquino, este grande sábio enumerou esses vícios capitais em: vaidade, avareza, inveja, ira, luxúria, gula e acídia. Hoje, em lugar da vaidade, a Igreja coloca a soberba e em lugar da acídia é mais freqüente encontrarmos a preguiça na lista dos vícios capitais. Para muitos estudiosos a substituição da palavra acídia por preguiça causou um empobrecimento do termo devido ao fato de que sendo um pecado capital ele se desmembra em outros menores cujos nomes soam estranhos para o mundo contemporâneo como é o caso da acídia. Não que esses adjetivos sejam reservados a especialistas, apenas foi usada uma terminologia da época, um exemplo disso é o pecado da inveja que era chamada sussurratio que traduzido seria murmuração.

São Tomas de Aquino nos ensina que os pecados recebem o nome de capitais por derivar-se da palavra caput: cabeça, chefe. Todo vício capital esta no ápice dos maus hábitos cuja liderança cria uma cadeia de variações. A esse desmembramento São Tomás deu o nome de “filhas” desses vícios. Ele dedicou atenção especial a Acídia quando entendeu que o desdobramento deste sentimento, é a tristeza, angústia e a ansiedade, sentimentos perversos que consomem o ser humano incapacitando-o de concretizar seus objetivos e sonhos.
Na inércia ou na atividade, o homem não consegue fugir do desconforto de si mesmo, posso citar o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, que afirma: “Mas, umas vezes em pleno trabalho, outras vezes no pleno descanso que, segundo os mesmos moralistas, mereço e me deve ser grato, transborda-se-me a alma de um fel de inércia, e estou cansado, não da obra ou do repouso, mas de mim”.
Voltando a São Tomás pareceu-me que ele pretendia explicar que acídia é a tristeza que nos paralisa, que não quer que caminhemos para a Luz. Hoje vejo muitos buscadores com o domínio da letra, mas sem a essência elevada dos ensinamentos espirituais. Acredito que a Providência Divina permite que esses buscadores conquistem o conhecimento até um determinado ponto e em seguida coloca a Acídia, a tristeza que paralisa, para testar a sua mão e o manejo da espada (trabalho) criando dificuldades de todos os lados para que ele tenha a certeza da sua busca espiritual e da conquista do Castelo da Ventura. A Providência Divina testa a todos com o desânimo, a falta de fé e entusiasmo, ficamos paralisados e essa falta de ação nos faz refletir; “Devo continuar? Será que estou no caminho certo? Aonde isso tudo vai me levar?”. Muitas vezes somos levados a esses questionamentos porque a Acídia nos induz a dúvidas sobre a nossa busca espiritual. Dúvidas que parecem estar em segundo plano na nossa mente como, “quem é você para querer elevar-se a alturas tão grandes?”. E eu respondo com outra pergunta; “E quem você para não sê-lo?”. Nesse momento nos deparamos com a primeira das filhas da Acídia; o desespero. Durante anos estudamos com firmeza e dedicação, na esperança de que a Luz se manifestasse com todo o seu esplendor em nosso coração, mas estamos paralisados pela dúvida e a tristeza da acídia. Tentamos de todas as maneiras encher nosso coração de entusiasmo, mas lá, ele não encontram guarita. Questionamos se devemos ser grandes ou voltarmos a sermos simplesmente humanos, muitas vezes esquecemos nossa natureza espiritual e nossa filiação com o Pai, abandonamos a nós mesmos na floresta dos erros, esquecendo nossa natureza espiritual.
Além do desespero que é a falta de esperança acompanhada de raiva, apresento nesse pequeno compêndio as outras filhas da Acídia;
Pusilanimidade: É a falta de coragem para se impor, é a timidez excessiva.
Divagação da Mente: É o ato de fantasiar, criar estórias na mente para compensar alguma coisa que não aconteceu da forma que gostaríamos que acontecesse.
Torpor: É a inação do espírito, indiferença.
Rancor: O Rancor é aquele ódio não manifestado, profundo, em estado latente.
Malícia: Malícia é a esperteza, a astúcia com que enganamos os outros.

Muitas vezes com a mente entorpecida pelas filhas da acídia, falamos de fé ao mesmo tempo em que nos sentimos sem esperança, falamos de amor e deixamos o ódio pelo nosso semelhante tomar conta do nosso coração. Deixamos as ilusões da matéria tomar conta de nosso ser e somos levados ao desespero pela perda do foco nos nossos estudos de retornar a casa do Pai.

A acídia se manifesta assim, impede o homem de expressar sua filiação e nobreza espiritual. Sacudindo seu espírito na irriquietação e tagarelice impondo dúvidas e medo na inconstância da decisão e na vulnerabilidade do caráter. Em suas fraquezas o homem perdeu a capacidade de habitar em si mesmo caminhando sem rumo e se acovardando diante da grandeza de suas capacidades. Na verdade caríssimos leitores, não acho que temos medos de sermos fracos, na verdade mesmo, temos medo de sermos capazes além da conta, porque em minha opinião não são as trevas que tememos, e sim a Luz que podemos irradiar.
E nessa fuga de si inconformado pela aridez do seu interior em desespero, o homem procura por mil caminhos, aquele bem que só a serenidade de um coração puro preparado para o sacrifício e senhor de si empunha a espada do trabalho e luta pela plenitude de uma vida inteiramente vivida, e não a vida nas fictícias ilusões da matéria. Na atualidade dessa vida ilusória, o homem já se esqueceu que é um ser de luz e reveste-se de personagens usando mascaras sociais para manifestar um ser que não passa de uma ilusão, distanciando mais ainda o ser de sua verdadeira essência.
Que a Divina Sophia nos ilumine sempre.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

ORGULHO

Existe certa dualidade no sentimento de orgulho, algumas vezes pode ser uma satisfação pela capacidade de realizar algo ou sentimento de dignidade pessoal. Em outras circunstâncias ele é visto como uma atitude negativa como, por exemplo, ter orgulho no sentido de arrogância de se sentir melhor que o outro. Deste modo o orgulho é visto como o primeiro dos sete pecados capitais. Se sentir superestimado, acreditar ser o melhor, estar acima de, ou ser mais importante. Vejo muitas pessoas expressando essas atitudes principalmente no campo profissional. Acredito que toda essa auto-importância esconde uma necessidade grande de ser compreendido e aceito, escondendo uma auto-estima deficiente, e para não se sentirem inferiores essas pessoas utilizam do orgulho exacerbado para constantemente se alto afirmarem. O orgulho sem dúvida nenhuma é o arquiinimigo do perdão. Ainda não percebemos o quanto o rancor nos corrói a alma e apodrece nosso coração. Dificultando mais ainda a retirada do véu da ignorância, castigo que nos turva a visão gloriosa da face de Deus.
Quem de nós está livre de ser tomado pelo ímpeto e pela certeza de estar fazendo a coisa certa acabamos ferindo aquela pessoa  com quem convivemos? Seja numa resposta “atravessada” ou numa atitude grosseira contribuímos de alguma forma com a divisão ou o isolamento da amizade. Passado algum tempo, já com a “cabeça fria”, percebemos o nosso erro. Ferimos pessoas ou até mesmo nos ferimos.
Refletir sobre o nosso ato nos ajuda a perceber o momento em que agimos precipitadamente; e dessa reflexão vem o remorso, sentimento que nos prepara para o pedido de desculpas. Reconhecer que fomos precipitados nos argumentos, significa, muitas vezes, humilhar-se e se fazer pequeno, reconhecer que errou. Perdoar ou liberar perdão não é ter “amnésia” sobre o ocorrido, mas sim, disponibilizar-se a restabelecer o relacionamento abalado pelo engano. Quantas vezes agimos errado pensando que estamos agindo certo? Do remorso ao perdão há distância é de um fio de cabelo, mas há espaço suficiente para dar guarita ao orgulho. Sentimento este que nos tentará convencer de que o ato de se desculpar ou reconhecer seu erro é atitude dos fracos. Por outro lado, infelizmente, há pessoas que não aceitam as nossas desculpas. Preferem desistir da amizade em vez de crescer e amadurecer por meio de situações apresentadas pela vida. Insistem em manter a irredutibilidade e a prepotência, que pensam possuir, em vez de dar o passo que romperá com os elos da corrente que as prendem. Talvez querendo cumprir a lei do “olho por olho, dente por dente”, esperam pelo melhor momento para a revanche. Enquanto isso desperdiçam tempo e amargam seus dias, remoendo o que já está resolvido para aquele que se dispôs a se desculpar. A vida é muito curta para se gastar o precioso tempo com comportamentos que não trazem a sustentabilidade de nossas convivências. Pedir ou conceder perdão não nos exige mais do que podemos agüentar. Quem sofre de orgulho passa os dias tentando provar aos outros o quanto é importante e que deve ser adorado pelas “galerias” como diria Carlos Castanneda.
Há também o outro tipo de orgulho. O de reconhecer os próprios feitos e considerá-los como um ato de justiça para consigo mesmo. Ele deve existir como forma de elogiar a si próprio, dando forças para evoluir e conseguir uma evolução individual, rumo a um projeto de vida mais amplo e melhor. Não é errado você se admirar e demonstrar publicamente este sentimento, esse tipo de orgulho é a confirmação natural de nossos sentimentos, nossas conquistas e alegrias, ou seja, um sentimento positivo, para consigo e com o próximo. Mas orgulho em excesso pode se transformar em vaidade, ostentação, soberba, sendo visto apenas como uma emoção negativa: a Arrogância.
Não percamos tempo monopolizando picuinhas, ressentimentos ou retendo perdão. Se uma situação especial nos faz refletir levando-nos ao ato da reconciliação, peçamos o perdão e perdoemos. Situações mal resolvidas afetam outras áreas de nossa vida. Talvez por isso existam ainda alguns problemas não “equacionados” em nossas vidas, pois, esses, são reflexos dos fragmentos dos “elos” que deixamos se perderem ao longo do caminho.
Perdoemos então, pois o orgulho sem dúvida nenhuma é destruidor da luz.
Que a Divina Sabedoria nos ilumine sempre.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...