sábado, 16 de julho de 2011

ORDEM ROSACRUZ (4ª PARTE)

Vejamos mais precisamente o que a AMORC significa como um movimento filosófico, iniciático e tradicional.
Historicamente, a Ordem Rosacruz remonta ao século XVII, época em que os Rosacruzes se fizeram conhecer na Alemanha, na Inglaterra e na França através de três manifestos que se tornaram célebres no mundo do esoterismo: o "Fama Fraternitatis", o "Confessio Fraternitatis" e o "Bodas Alquímicas de Christian Rosenkreutz", publicados respectivamente em 1614, 1615 e 1616. Esses Manifestos misturam relatos históricos e alegóricos, foram escritos por um grupo de Rosacruzes do famoso "Círculo de Tübingen". Alguns anos mais tarde, em 1623, um cartaz afixado nas ruas de Paris divulgava mais amplamente a Ordem Rosacruz. Nos séculos que se seguiram, esta Ordem sobreviveu sob diversas denominações para, ressurgir em 1909 com o nome de "Antiga e Mística Ordem Rosacruz". Aproveito o ensejo para informar ainda que a AMORC publicou em março de 2001 um quarto Manifesto, o "Positio Fraternitatis Rosae Crucis", que alguns historiadores reconhecem como sendo da linha dos Manifestos do século XVII.
É importante esclarecer que no século XVIII havia uma linha direta entre a Franco-Maçonaria e a Rosacruz, principalmente na Europa. É por isso que personagens como Cagliostro, Jean-Baptiste Willermoz e Martinéz de Pasqually pertenciam a essas duas Fraternidades. Nessa época, seus membros realizavam regularmente um trabalho integrado em determinadas reuniões. Atualmente, certas obediências maçônicas ainda conservam o grau de "Cavaleiro Rosacruz". Entretanto, a AMORC é totalmente independente da Franco-Maçonaria e perpetua sua herança segundo um método próprio. Essa afirmação permite lembrar o lema da Ordem que é "A mais ampla tolerância na mais irrestrita independência". De fato, a AMORC está ligada a apenas uma organização: a Tradicional Ordem Martinista, que ela apadrinha desde o fim da 2ª Guerra Mundial, e cujos ensinamentos se inspiram no pensamento de Louis-Claude de Saint-Martin, grande filósofo francês do século XVIII.
Apesar das origens históricas da Fraternidade Rosacruz se situarem na Renascença, sua herança tradicional é muito mais antiga, pois remonta ao Antigo Egito. Sabemos que existiam naquele país Escolas que reuniam pesquisadores que se interessavam pelos mistérios da vida, desde então se deu o nome de "Escolas de Mistérios". Esses pesquisadores, ou esses místicos, elaboraram progressivamente um Conhecimento secreto, uma Gnose, que se difundiu muito além das fronteiras egípcias. Filósofos, gregos como Heráclito, Tales de Mileto, Pitágoras e muitos outros, depois de terem estudado no Egito, fundaram sua própria Escola de Mistérios na Grécia. Por sua vez, os pensadores da Antiga Roma estudaram os mistérios gregos - que eram inspirados nos mistérios egípcios - e criaram também centros de estudos em seu país. Posteriormente, essa herança esotérica foi transmitida aos alquimistas da Idade Média e depois aos Rosacruzes da Renascença. Vemos, portanto, que, paralelamente às religiões estabelecidas, um conhecimento secreto é transmitido através dos tempos de uma Escola de Mistério para outra. Atualmente, a AMORC é uma das herdeiras desse conhecimento secular, daí seu aspecto tradicional.

A AMORC como movimento iniciático
Isso se deve ao fato de ela perpetuar um ensinamento progressivo, marcado por iniciações. Nos séculos passados, esse ensinamento era transmitido oralmente em locais secretos para evitar perseguições religiosas ou políticas. É por esse motivo que a Ordem Rosacruz foi considerada uma sociedade secreta. Mas, desde o inicio do século XX, a AMORC se caracteriza mais como uma organização discreta e tem transmitido seu ensinamento por escrito em forma de monografias, que são enviadas aos membros de forma confidencial. Essas monografias, que consistem em pequenos livretos, estão escalonadas em doze grandes graus. Mês após mês, ano após ano, grau após grau, cada membro da Ordem é iniciado ao que os Rosacruzes ensinam há séculos sobre os mistérios da vida. Esse processo iniciático é eficaz, pois permite que os conhecimentos adquiridos transcendam o intelecto e se tornem parte integrante da consciência da alma, que é a meta de toda busca verdadeiramente mística.
Qual é então o conteúdo do ensinamento Rosacruz? Sem entrar dos por menores, direi que ele trata de assuntos nos quais os místicos sérios estão sempre interessados: a natureza do Divino, as leis da Criação, a origem e a finalidade do universo, os conceitos de tempo e de espaço, a matéria enquanto energia e substância, o final ontológico da vida, a alma humana e seus atributos, as fases da consciência e as faculdades que lhe são próprias, os fenômenos psíquicos, a alquimia dos sonhos, os mistérios da morte, o pós-vida e a reencarnação, a ciência dos números, os símbolos tradicionais, etc. Paralelamente a esses temas de estudo, as monografias contêm também experimentos que se destinam ao aprendizado de técnicas básicas do nível místico, destacando principalmente a visualização, a meditação, o despertar psíquico, a harmonização astral, a comunhão espiritual, além de outros. Os ensinamentos Rosacruzes são ao mesmo tempo profundos e completos. Enfatizo que não há nele qualquer caráter dogmático. As explicações dadas sobre qualquer assunto constituem mais uma fonte de reflexão do que uma verdade em que se deva acreditar totalmente. Esse tipo de metodologia cria um espírito tolerante e estabelece as bases de uma personalidade independente nas escolhas de suas convicções filosóficas.
Se, por um lado, o ensinamento rosacruz se apresenta na forma escrita desde o início do século XX, por outro, existem as Lojas encarregadas de perpetuar o aspecto oral da Tradição Rosacruz. São locais em que os membros podem se reunir regularmente para participar de momentos de fraternidade. É também nessas Lojas que são transmitidas as iniciações rosacruzes. Considerando que existem doze graus nos ensinamentos da AMORC, cada membro que desejar pode então receber doze iniciações durante o seu período de estudos. Se eu digo "cada membro que desejar", é porque elas não são obrigatórias, mas recomendadas. As iniciações consistem em cerimônias simbólicas com três objetivos principais: receber ritualisticamente o candidato num novo grau, conferir a ele as novas chaves esotéricas, permitir a ele se comunicar com o mais divino de seu ser. Esclarecemos que elas não têm qualquer caráter mágico, teúrgico ou oculto, pois a magia, a teurgia e o ocultismo não fazem parte das práticas ensinadas na Ordem, e são até mesmo desaconselhadas.

A AMORC como movimento filosófico
Inicialmente, é preciso lembrar que a palavra "filosofia" significa literalmente "amor pela sabedoria". Isso dá a entender que os Rosacruzes "amam a sabedoria". Mas o que vem a ser a sabedoria? Apesar de não existir qualquer definição dogmática, acredito que ela corresponde ao estado de consciência de toda pessoa que expressa em seu comportamento as virtudes que se atribuem à alma humana, no que ela tem de mais divino. De um modo geral, é sábio aquele que despertou em si a paciência, a tolerância, a humildade, a generosidade, a coragem, a benevolência, a não-violência e outras qualidades que são atribuídas à inteligência do coração. Tanto que se pode dizer que há poucos Sábios entre os homens.
Convictos de que a meta de todo ser humano é ser perfeito, os Estudantes Rosacruzes se esforçam então para se tornarem cada vez melhores, não apenas para seu bem-estar pessoal, mas também para o bem-estar dos outros. Como? Praticando a alquimia espiritual, aquela que consiste em transmutar cada um dos nossos defeitos na qualidade correspondente. Como devem ter compreendido, essa forma de alquimia é a contrapartida espiritual da alquimia material que os alquimistas da Idade Média praticavam, e cuja finalidade era de transformar os metais comuns em metais preciosos, principalmente em prata ou em ouro.
A primeira definição da palavra "filosofia" é "amor pela sabedoria", mas ela é algumas vezes definida como sendo a "ciência da vida". Neste caso a definição também se aplica perfeitamente ao Rosacrucianismo, no sentido que a AMORC não é o caminho da crença, mas o caminho do conhecimento. Em outras palavras, ela não pede que seus membros acreditem cegamente nos ensinamentos que lhes são transmitidos, mas que os submetam sempre ao crivo da razão e da experimentação. Nisso vemos que a filosofia rosacruz não é especulativa, mas operacional, e que o laboratório dos Estudantes Rosacruzes não é nada mais nada menos que o próprio mundo. É efetivamente em contato com os outros que eles aplicam o Conhecimento adquirido a fim de produzir, especificamente, uma ciência da vida que seja útil para o bem comum, o que lhe confere um caráter profundamente humanista. Com relação a isso, vejam o que declarou Francis Bacon, célebre Rosacruz do século XVII, pai do método experimental: "O maior de todos os erros consiste em se equivocar com relação à verdadeira finalidade do Conhecimento, pois alguns são levados a ele apenas por uma curiosidade natural e por um temperamento sedento de saber; outros para entreter sua mente com a variedade e um certo prazer; outros para ostentação e para serem reconhecidos; outros ainda para competir e obter vitórias; muitos para conseguir lucros ou para ganhar a vida, e poucos apenas para se servir do dom divino da razão em benefício da humanidade."
Os verdadeiros estudantes Rosacruzes cultivam o amor pela sabedoria e pela ciência da vida. Mas, se combinarmos essas duas definições da palavra "filosofia", obteremos uma terceira, que é "amor pela vida". Frequentemente se acredita que o misticismo exige que as pessoas se privem dos prazeres legítimos da vida. Mentira! Ao contrário, o ideal é levar uma vida equilibrada, que implica em atender ao mesmo tempo ás necessidades do corpo e às inspirações da alma. É exatamente por esta razão que um ateu ou um materialista não pode ser feliz em longo prazo, e nem uma pessoa que se consagre exclusivamente à espiritualidade. Partindo deste princípio, a AMORC deixa seus membros totalmente livres para viver como eles entenderem que devem, não os submetendo a nenhuma obrigação e a nenhuma proibição. A título de exemplo, ela não exige nem que sejam vegetarianos, nem que jejuem, nem que tenham uma vida contemplativa, nem que se abstenham de qualquer coisa. Mas amar a vida é também respeitá-la em todas as formas e preservá-la em sua diversidade. É por essa razão que os Estudantes Rosacruzes dão uma grande importância à ecologia, sendo a Natureza para eles o mais belo dos santuários. Citando as palavras de François Jollivet-Castelot, eminente Rosacruz do século XX, ela é "o Grande Livro de Deus".

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