segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O SAGRADO, CALMO E LENTO



Vivemos, nos dias de hoje, tempos de pressa e angústia. Angústia que nasce da pressa com que somos obrigados a realizar as tarefas cotidianas e que também surge diante dos obstáculos à corrida desabalada de nossa pressa.

Na pressa e na angústia da pressa, vivemos a atualidade do mundo profano. Contudo, o mundo sagrado que nós buscamos e encontramos na Rosa+Cruz permanece sempre o mesmo, inabalável, imutável em seus símbolos e energias, sempre imerso na Eternidade luminosa, viva e amorosa de Deus.

Esse não-tempo, essa serenidade, essa força do Sagrado, em contrapartida ao cronômetro perturbador e debilitante do Profano, isso é o que nós, sedentos e famintos, queremos encontrar nas Convocações Ritualísticas, nas Práticas Místicas e nas Iniciações realizadas em nossa Loja Rosacruz.

No entanto, somos, muitas vezes, surpreendidos por oficiais ritualísticos desempenhando com uma pressa angustiada suas funções e falas, como se não tivessem feito a necessária desconexão com o tempo profano, como se não tivessem se entregado à atmosfera tranqüila e atemporal do Templo ou do Pronaos Rosacruz.

E tal situação é especialmente grave, na medida em que essa atitude de não-desconexão do mundo profano e de não-imersão no mundo sagrado, por parte de um oficial ritualístico, não só prejudica a própria experiência mística do oficial, como prejudica a experiência mística dos Fratres e Sorores presentes, pois é tarefa essencial do oficial ritualístico encarnar e transmitir os símbolos e as energias do Sagrado, através de suas falas e gestos e de sua postura no decorrer dos Rituais.

Quando entramos no Templo ou no Pronaos Rosacruz, entramos em outra dimensão, onde não impera mais o tempo profano, mas a atemporalidade sagrada. E é uma obrigação mística de todos os rosacruzes presentes às Práticas e Rituais contribuírem para a manutenção das altas vibrações desse ambiente de força e serenidade, sendo tal obrigação ainda mais determinante quando se trata dos oficiais ritualísticos.

Por que, então, muitas vezes, vemos e sentimos aquela profana pressa angustiada na fala e nos gestos de oficiais ritualísticos ?

É absurdo e inaceitável que um rosacruz esteja ansioso para que a Prática Mística ou o Ritual tenha logo fim, para que ele retorne aos seus afazeres e prazeres do cotidiano ou do fim-de-semana. Mas se for esse, inadvertidamente, o caso, é crucial que o Frater ou a Soror se empenhe, então, seriamente, no desafio espiritual de se desconectar do mundo profano e mergulhar no mundo sagrado do Templo ou do Pronaos, por toda a duração do Ritual ou da Prática Mística em que está presente.

Pode, no entanto, também acontecer do oficial ritualístico ficar nervoso e embaraçado no desempenho de sua função. Contra tais nervosismo e embaraço, o melhor antídoto são os ensaios, o maior número de vezes possível, coletivamente e individualmente, fisicamente e mentalmente, na Loja e em casa. Ensaios que tenham o caráter de um estudo amoroso e meditativo, pelo qual o oficial tome consciência dos significados e do poder das palavras, frases, gestos e movimentos que deverá dizer e executar na ocasião dos Rituais.

E para todas as circunstâncias, uma dupla de palavras é a chave: calma e lentidão. Calma que pode sempre ser produzida por respirações profundas e relaxadas. Lentidão que se consegue com a companheira Calma e com as simples e tantas vezes esquecidas e menosprezadas... Pausas.

Caminhando pelo Templo, calma e lentidão, Dignos Oficiais, pois seus passos pisam o Infinito Eterno. Narrando a Criação, calma e lentidão, Digno Capelão, pois suas palavras refazem-na em nossa alma. Conduzindo os rituais, calma e lentidão, Digno Mestre, pois suas instruções devem chegar aos nossos corações. Lendo a mensagem da Convocação, calma e lentidão, Digno Mestre, para que nossa escuta seja reflexão. Guiando um experimento, calma e lentidão, Digno Mestre, pois cada frase é uma ação a ser completamente realizada. Dizendo e agindo nos rituais, calma e lentidão, Dignos Oficiais, pois suas palavras e sua ação são as palavras e a ação da Tradição Sagrada, para além do tempo e para além do medo.

Se o mundo profano é apressado e angustiado, o mundo sagrado de nossos Templos, Rituais e Práticas Rosacruzes é lento e calmo. E neste oásis divino, nós podemos nos dessedentar e nos alimentar, mas também devemos regar e semear, para que, assim, a Grande Obra perdure e prospere.

(Jaime França Teles. Loja R+C Belo Horizonte. Reproari. 26/2/12)

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