segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A ORDEM ROSACRUZ E A MAÇONARIA

Ordem Rosacruz é a denominação da fraternidade filosófica que, de acordo com a tradição, teria sido fundada por Christian Rosenkreutz e representa uma síntese do ocultismo imperante na Idade Média. Mas para Harvey Spencer Lewis, organizador da Ordem Rosacruz na América a partir do início do século XX, a filosofia remontaria ao antigo Egito, à época do faraó Akenaton. Estudiosos do mundo todo tem aceitado essa hipótese com algumas reservas, pois os mais antigos documentos conhecidos sobre a existência dessa fraternidade remontam ao período medieval, embora a mesma apresente, em sua ritualística, muito do misticismo das antigas civilizações, como acontece com a maçonaria. Muitos maçons também querem fazer crer que a ordem maçônica já atuava no antigo Egito e na Pérsia, o que também carece de comprovação histórica. O fato é que o rosacrucianismo, assim como a maçonaria, é um sincretismo de diversas correntes filosófico-religiosas, como hermetismo egípcio, cabalismo judaico, gnosticismo cristão, alquimia medieval, doutrinas orientais, entre outras. A primeira menção histórica da fraternidade dos rosacruzes data de 1614, quando surgiu o famoso documento intitulado “Fama Fraternitatis”, onde são contadas as viagens de Rosenkreutz pela Arábia, Egito e Marrocos, locais onde teria adquirido sua sabedoria secreta, que só seria revelada aos iniciados. Uma outra corrente de estudiosos afirma que o nome Christian Rosenkreutz (cristão rosacruz) e sua saga são, na verdade, representações simbólicas com significado iniciático, e não uma história real de um personagem de carne e osso.

Rosacruzes na América
Harvey Spencer Lewis foi quem reativou e organizou o rosacrucianismo na América do Norte no início do século XX, já que ela havia existido anteriormente, sob outras organizações. Personalidades famosas como Benjamim Franklin teriam pertencido à ordens mais antigas. Na ocasião, a Ordem Rosacruz era ativa em alguns países da Europa, como França e Alemanha, mas com rituais diferenciados. Spencer Lewis, ao fundar a Antiga e Mística Ordem Rosacruz (AMORC) na América, não o fez sem antes estudar por mais de 10 anos suas raízes, o que permitiu mais tarde unificar todas as outras ordens, cuja essência era a mesma. Em 1915 ele tornou-se o primeiro Imperator (dirigente supremo da organização), e inovações como a possibilidade de membros estudarem por correspondência permitiram a rápida expansão da AMORC em inúmeros países. A unificação com a as demais ordens ocorreu no início dos anos 30, tornando-se Lewis o primeiro Imperator mundial. No Brasil, os estudos foram introduzidos na década de 50, e o cargo hierárquico mais alto é o de Grande Mestre, que representa o Imperator junto ao resto da organização no país.

O Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz
O teólogo Johann Valentin Andréa, neto do também teólogo luterano Jacob Andréa, foi um dos homens que mais divulgou o rosacurcianismo. Andréa, que nasceu em Herremberg, no Werttemberg, em 1581, depois de viajar pelo mundo, retornou à Alemanha, onde se tornou pregador da corte e, posteriormente, abade. A sua principal importância, todavia, originou-se do papel que ele teve naquela sociedade alemã, que no princípio do século XVII, lutava por uma renovação da vida, com uma nova insuflação espiritual.

A popularidade alcançada por Andréa foi imensa ao publicar o seu romance satírico “O Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz”, que criticava jocosamente os alquimistas, numa época onde reinava a desinformação e a velha ordem religiosa desagregava-se. A partir de 1597, já aconteciam reuniões de uma liga secreta de alquimistas, que haviam ficado sem irradiações e sem significado espiritual. Foi então que a palavra “rosacruz” adquiriu, rapidamente, uma grande força atrativa, a ponto de, num escrito anônimo de 1614, chamado “Transfiguração Geral do Mundo”, ser incluído o conceito de “Fama Fraternitatis R.C.” sem a necessidade de se explicar a sigla usada. Uma outra pequena obra, surgida um ano depois e intitulada “Confessio”, publicava a constituição e a exposição dos fins a que a Ordem era destinada.

O herói viveu 150 anos, extinguindo-se voluntariamente
De acordo com o “Confessio”, a Ordem Rosacruz representaria uma alquimia de alto quilate, na qual em vez das pesquisas sobre a pedra filosofal e transmutação de metais inferiores em ouro, era buscada uma finalidade superior, ou seja, a transmutação interna e espiritual do homem, que ficaria apto a ver o mundo e os seus segredos com mais profundidade. As correntes dos alquimistas medievais, diante da necessidade espiritual da época incrementada pela disposição de renovação e organização secreta, tomaram enorme vulto com o aparecimento do romance satírico de Andréa.

O herói do romance é o mesmo Christian Rosenkreutz já descoberto pelo manifesto “Fama Fraternitatis” e que já tinha viajado pelo Oriente no século XIV e aprendido a “Sublime Ciência”; teria ele, ainda segundo a lenda que lhe cercou o nome, voltado para a Alemanha, onde sua idéia foi seguida por muitas pessoas, até chegar aos 150 anos de idade, quando, cansado da vida, extinguiu-se voluntariamente. No romance de Andréa, Rosenkreutz era velho e impotente, motivo pelo qual o seu casamento só poderia ser alquímico.

O conceito da rosa mística provocou grande sedução
Com essa sátira, dirigida às sociedades secretas e à alquimia, Andréa havia desvendado tanto de positivo sobre a nova Ordem que restou a impressão de que ela já existia; o encontro dos convidados no tal casamento de Rosenkreutz vindos de todas as partes do mundo e a sua ligação dentro da nova ordem ilustram o desejo de dar corpo aos esforços no sentido de uma renovação espiritual da vida, valendo-se do sugestivo símbolo da rosacruz.

Esse símbolo corresponde à ansiedade da época. Alguns procuraram relacioná-lo com as armas de Lutero ou Paracelso; vale ressaltar que Andréa representou o seu Rosenkreutz com quatro rosas no chapéu, rosas essas que adornavam as armas de sua família. Robert Fludd, considerado como o primeiro rosacruz da Inglaterra, diz que o nome da ordem está ligado a uma alusão ao sangue de Cristo na cruz. A mística idéia da rosa, associada à lembrança da cor do sangue e aos espinhos que provocam o seu derramamento, contribuiu, certamente, para sua grande força de sedução. Os rosacruzes atuais tem uma interpretação mais mística a respeito da cruz e da rosa: a cruz representaria a parte material do ser humano, enquanto a rosa representaria a força espiritual aflorando em seu ser.

A junção dos sexos leva ao segredo da imortalidade
Como a preocupação máxima dos alquimistas que se ligaram à Ordem Rosacruz era o segredo da imortalidade e a regeneração universal, o símbolo rosacruciano está relacionado com essa preocupação. A rosa era uma flor iniciática para diversas ordens religiosas, sendo que, atualmente, a arte sacra continua a considerá-la como símbolo da paciência ou do martírio; Em outra análise, a rosa representaria a mulher, enquanto que a cruz simbolizaria o sexo masculino, pois para os hermetistas, a cruz é o símbolo da junção da eclíptica com o equador terrestre (eclíptica é a órbita aparente do Sol, ou a trajetória aparente que o Sol descreve, anualmente, no céu); ambos cruzam-se no equinócio da primavera e no equinócio de outono. Assim, a rosa simboliza a Terra, como ser feminino, e a cruz simboliza a virilidade do Sol, com sua força criadora que fecunda a Terra. A junção dos sexos leva à perpetuação da vida e ao segredo da imortalidade, resultando a regeneração universal, que é o ponto mais alto da filosofia rosacruz.

A alquimia evidencia a ligação entre as duas ordens
Maçons e rosacruzes estreitaram seus laços na Idade Média. No fim do período medieval e começo da Idade Moderna, com inicio da decadência das corporações de construtores (englobadas sob rótulo de maçonaria de ofício ou operativa), estas começaram paulatinamente a aceitar elementos estranhos à arte de construir, admitindo inicialmente filósofos, hermetistas e alquimistas, cuja linguagem simbólica assemelhava-se à dos franco-maçons. Como a Ordem Rosacruz estava impregnada pelos alquimistas, a ligação do rosacrucianismo com a maçonaria ocorreu naturalmente. Deve-se levar em consideração também que, durante o governo de José II, imperador da Alemanha entre 1765 e 1790 e co-regente dos domínios hereditários da Casa d’Áustria, houve um grande incremento da popularidade da Ordem Rosacruz e sua comunidade, atingindo até a Corte. Isso fez com que o imperador proibisse todas as sociedades secretas, abrindo exceção apenas aos maçons, o que provocou a migração de muitos rosacruzes rumo às lojas maçônicas.

Da regeneração e imortalidade à reformadora social
A partir da metade do século XVIII, com a maciça entrada dos rosacruzes nas lojas maçônicas, tornava-se difícil, de uma maneira geral, separar maçonaria e roscrucianismo, tendo a instituição maçônica incorporado aos seus vários ritos a simbologia dos rosacruzes, como no 18º grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, no 7º grau do Rito Moderno, no 12º grau do Rito Adoniramita etc. A sua origem hermetista e a sua integração na maçonaria, durante a segunda metade do século XVIII, leva a marca dos ritualistas alquímicos, que redigiram naquela época os rituais dos Altos Graus. O hermetismo atribuído ao grau 18 é perceptível no símbolo do grau, que tem uma rosa sobreposta à cruz, representando o sacrifício e o segredo da imortalidade, que é também o significado oculto do esoterismo cristão, manifestado na ressurreição de Jesus Cristo.

A maçonaria, em alguns casos, modificou a simbologia rosacruz, reescrevendo-a em termos menos místicos e mais práticos. Assim, o segredo da imortalidade está, na maçonaria, associado ao aperfeiçoamento contínuo do homem, que é visto como uma pedra bruta que precisa ser lapidada. Todavia, uma parte do misticismo original dos rosacruzes foi mantida, pois embora a maçonaria não seja uma ordem mística, utiliza-se da simbologia de várias correntes filosóficas, ocultistas e metafísicas para perpetuar seus ensinamentos.

As iniciações
Uma singularidade entre a Ordem Rosacruz e a maçonaria são as iniciações nos graus, sendo que para ambas, a primeira é a mais marcante. As iniciações têm o mesmo objetivo: impressionar o neófito levando-o à reflexão, para que ele decida naquele momento se deve ou não seguir adiante. Se assim o decidir, assume o compromisso de manter em segredo todos os símbolos, usos e costumes da instituição, trabalhando em busca de seu auto-aperfeiçoamento, bem como em prol da ordem.

Semelhanças e diferenças
A maçonaria é uma ordem exclusivamente templária, ou seja, os ensinamentos só ocorrem dentro das lojas. Já a Ordem Rosacruz dá ao estudante o livre arbítrio para estudar em casa ou participar das atividades em um Templo Rosacruz. O estudo em casa é acompanhado à distância e, assim como a maçonaria, é composto de vários graus. Apesar de não obrigatória, a reunião templária rosacruz é incentivada, pois proporciona ao estudante o contato com os demais integrantes e a participação em rituais e experimentos místicos em grupo são fatores de desenvolvimento pessoal e fortalecimento da egrégora da organização.

Vários são os símbolos comuns às duas instituições, a começar pela disposição dos oficiais nos templos, lembrando os pontos cardeais, e a passagem do Sol pela Terra, do Oriente ao Ocidente. Cada ponto cardeal é ocupado por um membro-oficial. A figura do Venerável na maçonaria, ocupando sua posição no Oriente, encontra similar na Ordem Rosacruz, na figura do Mestre, que ocupa seu lugar no Leste. Em ambos os casos o templo é pintado na cor azul celeste, e a entrada dos membros ocorre pelo Ocidente. O altar dos juramentos maçônico encontra semelhança no shekinah da Ordem Rosacruz, sendo que neste último não se usa a Bíblia ou outro Livro de Lei, mas sim três velas dispostas de forma triangular, que conservam um simbolismo específico. Outra semelhança é o uso de avental por todos os membros iniciados ao adentrarem o templo, enquanto que os oficiais usam paramentos especiais, cada qual de acordo com o cargo que ocupa no ritual. Porém, o avental rosacruz não diferencia o grau dos membros, o que ocorre na maçonaria. Os iniciantes na Ordem Rosacruz recebem seus estudos em um templo separado, anexo ao templo principal, enquanto os aprendizes maçons recebem sua instruções juntamente com os demais irmãos, no mesmo espaço.

Algumas das maiores diferenças ficam mesmo por conta da condução do ritual, onde na Ordem Rosacruz há um forte caráter místico-filosófico, inclusive com a condução de experimentos místicos e meditações. Finalmente, o formato físico da loja maçônica lembra as construções greco-romanas, enquanto que a Ordem Rosacruz inspira sua arquitetura nas construções do antigo Egito.

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