quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

QUANDO O TIRAREMOS DA CRUZ?

Acredito que você esteve num mundo iluminado e de muita paz, um mundo onde nossa consciência ainda não alcança quanto mais nossas palavras. Você estava naquele Reino de Luz, junto aos outros Mestres e também onde moram os anjos. A Grande Morada, a Casa do Pai, local ao qual um dia todos nós vamos voltar. E mesmo estando acredito eu, a direita Dele... Você decidiu voltar por nós.
No princípio, no princípio mesmo não passávamos de microorganismos se proliferando encima do firmamento. De combinação em combinação passamos a rastejar, nadar invadimos terras e mares continuamos a proliferar e bilhões de anos depois o verbo se fez carne, e você sempre ali, um exímio observador da Criação Divina.
Foi nosso amigo em todas as eras, observando quando deixamos de ser seres rastejantes e passamos a caminhar passo a passo em busca de nossa sobrevivência, cuidando para que nosso fogo não se apagasse com os ventos gélidos das noites escuras.
Você é o que há de mais precioso em nossa existência e, ainda assim, é tão somente mais um de nós…
Sendo ao mesmo tempo deus e homem. Como deus, veio de algum lugar do infinito e se juntou a nós no firmamento como homem.
Sua missão era uma só, nos fazer acreditar que somos muito melhores do que pensamos ser, bastava apenas amar o Criador e as criaturas. Ao invés de acreditarmos que poderíamos subir as alturas das esferas celestes, preferimos puxá-lo para baixo para o nível do pensamento, para o nosso fétido pântano de desejos desenfreados. Arrancamos suas asas e o fizemos gritar de agonia, e o que você nos ofereceu? A outra face! Aceitou a missão, nasceu novamente homem e viveu intensamente uma vida de homem. Humildemente você se ajoelhou perante os sábios e lhes disse: “ensina-me”, mas eles lhe responderam: “não, ensina-nos tu, ó mensageiro!”
Você não foi profeta, mas alguém que já viu essa Terra girando tantas vezes que aprendeu a conhecer os corações dos homens. Nunca quis ser o Messias, mas foi chamado como tal, não perceberam que você só queria nos lembrar sobre o amor. Não quis ser curandeiro, mas alguém que quis mostrar a saúde de nossa própria alma. Não quis ser o Rei dos Reis, apenas alcançar o domínio do espírito.
Ao invés de ouvi-lo cuspimos em sua mensagem de luz. Nós o açoitamos e lhes dissemos para ir-se embora. E para nos certificamos de que estava errado em sua vã esperança de uma era de amor, nós deixamos que o próprio povo, o seu querido povo, escolhesse entre tu, ó cordeiro que sangra, e Barrabás, um assassino imundo e incitador de rebeliões e matanças. E eles, nossos antepassados não te escolheram, eles te deixaram sangrar até o fim...
Nós os senhores da Terra, conquistadores de reinos, a turba do Coliseu, o crucificamos e o banimos de nossas vidas. A tua esquerda deixamos um ladrão, e a tua direita outro, e só deixamos que algumas mulheres te dissesse adeus, porque todos nós sabemos o quanto elas choraram os vê-lo na cruz. Você ainda teve a coragem de pedir perdão ao Pai, dizendo que não sabíamos o que estávamos a fazer. Mas todos nós sabíamos, sabíamos exatamente o que era realizado naquele dia!
Esse foi apenas o início de nossa vingança. Depois, ainda conseguimos erguer uma gloriosa Igreja de Eleitos sobre os corpos esquartejados de cada um de seus amados discípulos. Eles pregavam sua mensagem de que o Reino de Deus nos abarcava por todo lugar, dentre galhos partidos e debaixo de pequenas pedras ao longo das estradas, como está escrito no evangelho de Judas… E nós lhes dissemos que não: “Todas as estradas levam a Roma, e somente a Igreja de Roma poderá lhes salvar da danação eterna!”
Você veio nos dizer que a existência era uma festa de amor do Pai por nós, e que tudo que havíamos de buscar era o amor. Mas nós lhes dissemos que todo ser nasce um pecador, inventamos a estória de um ancestral que havia comido uma maçã podre num paraíso perdido, e que por isso te crucificamos: para que pagasse o pecado sombrio de todos nós, de toda a humanidade!
Houve dias em que nossa Igreja controlou os pensamentos de metade da humanidade. Nós que te crucificamos e que aplaudíamos enquanto sangrava, gota a gota, fizemos de seu momento de maior agonia, de seu calvário, nossa maior imagem de glória. Na entrada de cada Templo de Ouro, erguidos em meio à pobreza e miserabilidade dos homens, mostramos o Cristo Crucificado em toda a sua grandeza…
Mais de 2 mil anos se passaram e até hoje você está crucificado, e até hoje lhe esquecem e clamam em turba: “Salvem Barrabás!”
Então eu lhe pergunto, meu amigo: quando finalmente sairá dessa cruz? Quando finalmente se instaurará um reino de vida, e não mais de morte, nesta terra? Quando finalmente irás ressuscitar dentre os mortos, para que tragas junto contigo todos aqueles discípulos de outrora, e todos os teus amigos que tem te amado nas orações noturnas, e salvo teus ensinamentos em pinceladas ocultas e vasos enterrados nos desertos?
Quando irá retirar os três pregos hediondos desta cruz monumental, e virá nos consolar novamente? Ou será que somos nós que precisaremos subir até sua cruz, para te libertar, e lhe trazer definitivamente para dentro de nosso coração?

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