O Rosacrucianismo é tradicionalmente conhecido como
tendo sido desenvolvido na Alemanha por Christian Rosenkreuz, que teria vivido
no século XV e que supostamente promulgou as doutrinas rosacrucianas básicas
(STEINER, 2000). Essas doutrinas compõem a literatura rosacruciana original,
publicada pela primeira vez na Europa no início do século XVII. Fama
Fraternitatis e Confessio Fraternitatis são os dois principais textos do
rosacrucianismo, publicados anonimamente em 1610 e 1615, respectivamente, na
Alemanha (YATES, 1972).
O Fama Fraternitatis descreve o surgimento e
história de Christian Rosenkreutz, um personagem lendário ou talvez alegórico.
Buscando por conhecimento, o Frater C.R.C.1 realiza uma viagem ao Oriente
Médio, encontrando-se com sábios e místicos (possivelmente mestres Sufis e
zoroastristas), aprendendo ensinamentos esotéricos e desenvolvendo poderes de
cura. Ao retornar para a Europa suas descobertas são rejeitadas por religiosos
e acadêmicos, fundando então uma fraternidade restrita chamada Ordem da Rosa
Cruz, na qual os membros eram chamados de rosacrucianos. O livro também
descreve o trabalho desenvolvido por seus discípulos e a descoberta do túmulo
oculto de Rosenkreutz. Confessio Fraternitatis aprofunda nos ensinamentos Rosa
Cruzes e propõe um plano de reforma mundial com a criação de uma comunidade
invisível chamada “Spiritus Sancti” com a qual a Ordem pode crescer
secretamente.
Focando no desenvolvimento pessoal, a publicação
desses manifestos causou uma resposta instantânea de grupos intelectuais na
Europa, que tentavam entrar em contato com os membros de tal ordem secreta.
Os primeiros membros historicamente conhecidos
cujos esforços foram de transformar o conhecimento Rosacruz em um sistema de
estudo eram maçons escoceses, por meio da Societas Rosicruciana (WESTCOTT,
1966). A literatura ocultista indica que os maçons Rosacruzes permaneceram
sozinhos nessa via por pelo menos 88 anos. Depois disso, muitas outras Ordens
com base nas tradições Rosacruzes foram desenvolvidas, muitos delas também por
maçons.
Este artigo é uma visão geral das mais importantes
Ordens Rosacruzes, e, embora ele não esgote o tema, pretende-se que sirva como
um guia de pesquisa para acadêmicos que desejam explorar a interligação das
várias Ordens.
Breve Históricos das Ordens
Societas Rosicruciana – a Rosa
Cruz Maçônica: Essa
sociedade, restrita a Mestres Maçons, surgiu inicialmente na Escócia, em 1800.
Atualmente está presente na Escócia, Inglaterra, EUA, Canadá, Irlanda,
Portugal, França e Brasil. Seus ensinamentos são baseados no Fama Fraternitatis
e no Confessio Fraternitatis.
A seguir um breve resumo das duas mais
representativas Societas em número de membros:
Societas Rosicruciana in Anglia –
SRIA: Fundada em Londres entre 1865 e 1867 por Robert Wentworth Little, um
maçom, que havia sido iniciado na Societas Rosicruciana in Scotia (CHURTON,
2009). Muitos ocultistas famosos do século XIX eram membros: John Yarker,
Paschal Bervely Randolph, Arthur Edward Waite, William Wynn Westcott, Eliphas
Levi, Theodor Reuss, Frederick Hockley e William Carpenter, além de muitos
outros (PAIJMANS, 1998). Foi por intermédio da SRIA que a Societas Rosicruciana
in Canada teve sua origem.
Societas Rosicruciana in Civitatibus Foederatis – SRICF: Fundada na Pensilvânia em 1880 sob os auspícios da Societas Rosicruciana in Scotia. Sua sede atual está em Washington, DC. A Societas nos EUA mantém laços estreitos com a Societas da Escócia, Inglaterra e Canadá, e promove o crescimento e fortalecimento da causa rosacruciana maçônica em outros países, como no Brasil.
Societas Rosicruciana in Civitatibus Foederatis – SRICF: Fundada na Pensilvânia em 1880 sob os auspícios da Societas Rosicruciana in Scotia. Sua sede atual está em Washington, DC. A Societas nos EUA mantém laços estreitos com a Societas da Escócia, Inglaterra e Canadá, e promove o crescimento e fortalecimento da causa rosacruciana maçônica em outros países, como no Brasil.
Hermetic Order of the Golden
Dawn: Fundada
por três Mestres Maçons da Societas Rosicruciana in Anglia: William Wynn
Westcott, Samuel MacGregor Mathers e William Robert (GUILEY, 2006). Criada em
1888, logo se espalhou para França, Escócia, Boston, Filadélfia e Chicago. A
Ordem promovia estudos sobre Kabbalah, Alquimia, Simbolismo, Astrologia e Tarô
(McINTOSH, 1997), por meio de um sistema de graus diretamente herdado da
Societas Rosicruciana in Anglia – SRIA (SABLÈ, 1996). Não demorou muito para que
a Ordem se tornasse popular entre os acadêmicos daquela época (AKERMAN, 1998).
Sua popularidade foi enorme entre 1892 e 1896. Em 1897, a Golden Dawn começou a
ruir: Westcott, um médico legista, sucumbiu à pressão e abandonou a Ordem
devido às pressões de que um médico legista da Coroa estivesse associado a uma
entidade ocultista. Nesse contexto, Mathers percebeu que o caminho estava livre
para ele assumir a liderança da Ordem, e, a partir daí, muitos conflitos com as
lideranças das Lojas começaram a ocorrer.
A situação ficou pior com a chegada de Aleister
Crowley. Pouco tempo após sua admissão, Crowley exigiu seu ingresso no Círculo
Íntimo que comandava a Ordem. Ele tornou-se próximo de Mathers, que deu a ele
autoridade sobre as Lojas na Inglaterra (HOWE, 1985). Isso levou a um levante
dos membros ingleses que acabaram expulsando Mathers e Crowley da Ordem em
1900. William Butler Yeats, que se tornaria um laureado com o Nobel de
Literatura alguns anos depois, tornou-se o líder da Ordem, mas renunciou ao cargo
em menos de um ano (Ibid., p. 285). Passada essa fase, a Golden Dawn foi
perdendo membros até que finalmente desapareceu em 1915.
Ordem Rosacruciana de Alpha e
Omega – ROAO: Uma
Ordem criada em 1900 por Samuel Mathers depois de sua expulsão da Golden Dawn
(CICERO, 2003). Mathers promoveu uma cisão na Golden Dawn, levando consigo um
grupo leal que deu início à ROAO. Um de seus mais famosos membros foi Dion
Fortune. Porém, ela acabou sendo expulse da Ordem depois de muitas discussões e
discordâncias com Mathers. Samuel Mathers conseguiu manter a ROAO em
funcionamento até sua morte, em 1918. Sua esposa, Moina Mathers, assumiu seu
posto até que ela faleceu, em 1928 (Ibid., p. 63).
Stella Matutina: Também conhecida como “Rosa
Mística”, esse grupo surgiu de um dos desmembramentos da Golden Dawn em 1900,
mas diferente da Ordem Rosacruciana de Alfa e Omega – a qual foi leal ao
Mathers, a Stella Matutina foi composta por aqueles contra Mathers (REGARDIE,
2003). O foco da Ordem, além do conhecimento rosacruz (herdado da Golden Dawn),
era o desenvolvimento da habilidade de projeção astral. A Ordem teve seus
trabalhos encerrados em 1939.
Ordre Kabbalistique de la Roise
Croix – OKRC: A
Ordem Cabalística da rosa Cruz foi fundada em Paris, em 1888, por Stanislas de
Guaita (AKERMAN, 1998). O comando da Ordem era exercido por um conselho de doze
membros, seis desses “desconhecidos” para garantir a sobrevivência da Ordem em
caso da falha dos outros (CHURTON, 2009).A OKRC atraiu atenção de muitos
ocultistas da época, como Papus (Gérard Encausse), François Barlet, Joséphin
Péladan e Spencer Lewis (McINTOSH, 1997). Os ensinamentos da Ordem envolviam
conhecimento de Tarô, Astrologia, Alquimia, Teurgia, Numerologia, e Kabbalah.
Essa Ordem ainda sobrevive, e atualmente a maioria dos ensinamentos da OKRC é
relacionada à Kabbalah.
Ordem da Rosa Cruz Católica –
CRC: Fundada
por Joséphin Péladan em Paris, em 1890. Péladan foi cofundador da OKRC, mas
declarou ter recebido de seu irmão mais velho Adrian uma diferente linhagem de
Rosa-Cruz, seguindo caminho diferente de Stanislas de Guaita. Além de estudos
esotéricos, a Ordem focou em estudos relacionados a Ciências, Cultura, Música,
Teatro e Artes em geral (DI PASQUALE, 2009). Ele morreu em 1918 e seus
discípulos tentaram dividir a Ordem entre eles. O único que obteve sucesso foi
Emile Dantinne, com a OARC.
Ordo Aureae & Rosae Crucis –
OARC: Criada
por um discípulo belga de Péladan, Emile Dantinne, em 1923 (SABLÈ, 1996). Ele
dividiu a Ordem em três partes: Rose-Croix Universitaire, Rose-Croix
Universelle e Rose-Croix Interioure. A Ordem era composta de um sistema de
vinte e dois graus, dos quais o ultimo grau era o “Emperor.” Harvey Spencer
Lewis, o fundador da Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, e seu filho, Ralph
Maxwell Lewis, receberam o grau de Emperor pelas mãos de Dantinne na Europa
(LEWIS, 2009). Esta é uma evidência da relação fraterna entre a OARC e a AMORC.
A OARC ainda existe na Europa através de muitos pequenos grupos que trabalham
discretamente.
Ordo Templi Orientis – OTO: Esta sociedade teve início
em 1895, aparentemente por Carl Kellner, Henry Klein, Theodor Reuss, e Franz
Hartmann. A OTO seguiu as tradições rosacrucianas durante o período que Reuss e
Hartmann participaram. Há uma carta de Reuss enviada a Harvey Spencer Lewis,
datada de 1921, na qual ele explica a origem rosacruciana da OTO (STARR, 2003).
Lewis se juntou à OTO depois do convite de Reuss e saiu da Ordem quando Crowley
assumiu sua liderança, em 1924. Muitos grupos se desligaram da OTO durante a
administração de Crowley, o qual modificou o conteúdo e estrutura da Ordem,
dando-lhe um aspecto telemita.
Muitas vertentes surgiram após a “Era Crowley”,
apresentando a si mesmos como a legítima OTO. A que alcançou maior sucesso foi
uma sediada em New York e que tem trabalhado a Ordem internacionalmente. Ela
foi fundada por Grady Louis McMurtry, em 1979, quando a Loja “Agape” foi
reaberta, uma vez que funcionou na Califórnia e era diretamente ligada à OTO
original.
Um fato interessante foi a disputa legal que a OTO de McMurtry enfrentou pelos direitos de governar a instituição e os direitos patrimoniais sobre os materiais literários da Ordem. Seu oponente era a Ordem brasileira chamada SOTO – Societas Ordo Templi Orientis, fundada em 1962 e administrada por Marcelo Ramos Motta, que se declarava o legítimo sucessor de Crowley (LEWIS, 1999). Marcelo Motta foi o primeiro divulgador telemita no Brasil e era o líder esotérico de Paulo Coelho.
Um fato interessante foi a disputa legal que a OTO de McMurtry enfrentou pelos direitos de governar a instituição e os direitos patrimoniais sobre os materiais literários da Ordem. Seu oponente era a Ordem brasileira chamada SOTO – Societas Ordo Templi Orientis, fundada em 1962 e administrada por Marcelo Ramos Motta, que se declarava o legítimo sucessor de Crowley (LEWIS, 1999). Marcelo Motta foi o primeiro divulgador telemita no Brasil e era o líder esotérico de Paulo Coelho.
A OTO de McMurtry ganhou na justiça e detém o direito de continuar usando o
nome OTO e publicando seu material literário.
Pansophicum Collegium – PC: Fundada por Heinrich
Tranker, em 1921. Ele foi o líder da filial alemã da OTO durante a liderança de
Reuss e se rebelou quando Crowley assumiu (D’AOUST & PARFREY, 2007).
Atualmente o PC considera-se a única mantenedora dos verdadeiros segredos da
fraternidade rosacruciana. Entre 1921 e 1931 o PC manteve parceria com a AMORC.
Durante esse período, um grupo de membros do PC, insatisfeito com a direção da
Ordem, fundou a Fraternitas Saturni – FS, com uma visão mais voltada para
Thelema. Ambas as Ordens, PC e FS, ainda existem.
Fraternitas Saturni – FS: Criada na Alemanha por
dissidentes da Pansophicum Collegium – PC, em 1928, sob a liderança de Gregor
Gregorius (FLOWERS, 2006). Esse grupo especializado em Thelema foi inspirado
pelo Rito Escocês Antigo e Aceito, criando um sistema de trinta e três graus.
Em 1936, o governo nazista proibiu a FS e Gregorius fugiu da Alemanha para
evitar a prisão. Com o fim do nazismo, Gregorius retornou para a Alemanha e
reestabeleceu a FS, promovendo muitas reformas internas.
Fraternitas Rosicruciana Antiqua
– FRA: Fundada
pelo alemão Henrich Arnold Krumm-Heller no México, em 1927, sua sede
inicialmente funcionou na Alemanha (KONIG, 1995). Krumm-Heller era membro da
OTO e recebeu ordens de Reuss para colaborar com a expansão da OTO na América
Latina, mas, em vez disso, ele decidiu criar sua própria Ordem. FRA fez sucesso
em países da América Latina e chegou a outros países como Espanha e Austrália,
mas com resultados menores. Krumm-Heller não formou novas lideranças nem nomeou
um sucessor, então, depois de sua morte, a FRA passou a operar com lideranças
locais, sem uma unidade internacional. Em muitos países a FRA se aliou à FRC
para sobreviverem. Isso enfraqueceu a instituição, causando o desaparecimento
em muitos países, estando a Ordem ativa atualmente apenas no Brasil e em outros
poucos lugares.
Rosicrucian Fellowship: Também conhecida como
Associação dos Cristãos Místicos, ou, simplesmente, a Fraternidade Rosa Cruz,
esse grupo foi estabelecido nos EUA por Max Heindel, em 1909 (HEINDEL, 2012).
Essa é uma das poucas instituições que, em vez de se autoproclamar a descendente
direta e legítima da primeira Ordem Rosacruciana, declara-se inspirada e não a
continuação da Fraternidade rosacruciana original. Ao invés de Lojas, seus
membros chamam o local de reuniões pelo termo Igrejas. De fato, esse é um termo
mais adequado, visto a Ordem funcionar mais parecido com uma religião do que
com uma Ordem (SABLÈ, 1996; LEWIS, 2004). Sua sede fica na Califórnia.
Ancient Mystical Order Rosae
Crucis – AMORC: Uma
das mais conhecidas Ordens rosicrucianas, a AMORC foi fundada por Harvey Spencer
Lewis, em 1915, nos EUA (GUILEY, 2006). Ele declarou que havia sido iniciado em
Toulouse, em 1909, e declarou que a AMORC era a única legítima Ordem Rosa Cruz,
baseado em estudos desenvolvidos pelo historiador maçônico, Dr. Julius
Friedrich Sachse, que afirma que houve uma expedição rosacruciana em 1694 que
estabeleceu uma colônia na Pensilvânia. Como uma estratégia de crescimento e de
ganhar mais legitimidade, Lewis incorporou à AMORC muitas pequenas, porém
antigas, Ordens rosacrucianas de toda a Europa. Isso foi possível por meio da
oferta de apoio material e financeiro que a AMORC proveria àqueles dispostos a
serem incorporados. Apesar disso, o grande desenvolvimento da AMORC aconteceu
quando o filho de HS Lewis, Ralph Maxwell Lewis, assumiu o posto do pai. Ralph
criou os sistemas de instrução por correspondência e de iniciações em casa,
além de reduzir o conteúdo teúrgico em seus materiais, focando no
místico-esotérico. Os rituais de iniciação aparentam ter sido muito
influenciados pela Maçonaria, especialmente pelo Rito Memphis-Misraim. Através
do trabalho de RM Lewis, a AMORC se expandiu para muitos países, incluindo a
criação da Grande Loja AMORC de Língua Portuguesa, com sede no Brasil.
O grande erro de Ralph Maxwell Lewis foi não ter
preparado um sucessor, assim como não ter estabelecido com Conselho
Administrativo capaz de dar continuidade ao trabalho. Depois de sua morte, Gary
Stewart assumiu seu posto em 1987 como Imperator, mas permaneceu apenas três
anos como o líder da AMORC, diante de um escândalo financeiro envolvendo a
Ordem. Após três anos de batalha judicial, foram retiradas as acusações de
desvio de fundos existentes sobre Stewart e ele fez um acordo com a AMORC,
renunciando ao cargo. Stewart foi sucedido por Christian Bernard, em 1990 (GREER,
2009).
A AMORC possui uma Ordem anexa: a Tradicional Ordem
Martinista – TOM. O Imperator da AMORC é também o chefe maior da TOM, e para se
tornar membro da TOM é necessário ser um membro regular da AMORC.
Antiquos Arcanus Ordo Rosae Rubae
et Aureae Crucis – AAORRAC: Fundada na Áustria por Edward Munninger, essa foi uma cisão da
jurisdição alemã da AMORC, que aconteceu em 1952. Eles têm adotado o nome
original da AMORC como uma estratégia de incutir à Ordem um senso de
antiguidade que, de fato, não possui. Os ensinamentos da AAORRAC são baseados
nos estudos da AMORC, e eles têm sido acusados de apropriação indébita de
materiais da AMORC e da OTO. Sua sede atual está localizada na Áustria
(LAMPRECHT, 2004).
Antient Rosae Crucis – ARC: Esse grupo foi fundado em
1990 por dissidentes da AMORC nos EUA, quando dos escândalos da administração
de Gary Stewart. Esse grupo em particular permaneceu leal a Stewart e contra a
AMORC, e pediu a Stewart que aceitasse ser o seu Imperator. Seus materiais são
baseados no da AMORC utilizados nos anos de 1950.
Confraternity of the Rose Cross –
CR+C: Fundada
pelo ex-Imperator da AMORC, Gary Stewart, como uma alternativa após o incidente
judicial. Opera similarmente à AMORC, utilizando o material da época do HS
Lewis antes das várias mudanças implementadas por seu filho. CR+C trabalha em
comunhão com a OMCE – Ordo Militia Crucifera Evangelica, uma Ordem de
inspiração templária. O conteúdo dos materiais da CR+C é considerado por muitos
como o mais fiel aos conceitos da moderna Rosa Cruz.
Ordem do Templo da Rosa Cruz –
OTRC: Fundada
em Londres, em 1912, por duas mulheres e um homem: Annie Besant, Marie Russak e
James Ingall Wedgwood. A Ordem foi inicialmente composta por teosofistas e
membros da Comaçonaria Le Droit Humain, e se consideravam os legítimos
representantes dos Templários e dos rosacrucianos. O grupo desapareceu em 1918
(HEIDLE & SNOEK, 2008).
Corona Fellowship of Rosicrucians
– CFR: Criada
por um dos remanescente da OTRC quando ela foi fechada. Os membros criaram o
“Novo Teatro Rosacruciano”, em Hampshire, uma espécie de fórum que servia de
palco para debates ocultista em onde muitos famosos ocultistas surgiram, como
Gerald Gardner. Aparentemente essa Ordem não sobreviveu à Segunda Guerra
Mundial (McINTOSH, 1997).
Les Freres Aines de la Rose-Croix
– FARC: Essa
instituição declara que foi fundada em 1316, poucos anos depois do fim da Ordem
templária. De acordo com seus membros, alguns cavaleiros templários foram para
a Escócia onde reabriram sua Ordem como a FARC. Entretanto, a FARC foi
oficialmente criada em 1971 por Roger Caro, alquimista francês, autor da lenda
sobre a origem templária da Ordem (CARO, 1970). Ele serviu a Ordem como seu
Grão-Mestre até sua morte, em 1992. A instituição tem por foco os estudos dele
de alquimia. Depois da morte de Roger, a FARC foi dissolvida de acordo com seus
últimos desejos.
Conclusões
O presente estudo permite-nos identificar seis
vertentes rosacrucianas distintas. Com a intenção de obter melhor compreensão,
essas vertentes serão nomeadas considerando as características doutrinárias que
as distinguem: Hermética, Cabalística, Thelêmica, Gnóstica, Mística e
Teosófica. Uma breve descrição da doutrina que nomeia cada vertente é feita a
seguir:
o
Hermetismo:
o estudo e prática da filosofia oculta cujo autor é Hermes Trimegisto;
o
Cabala:
esoterismo judaico cujo objetivo é prover conexões entre espírito e matéria;
o
Thelema:
filosofia baseada em amor e vontade, tendo por base seu próprio “Livro da Lei”;
o
Gnose:
diz respeito à busca do conhecimento espiritual e divino por meio de
sentimentos e experiências pessoais intuitivas;
o
Misticismo:
estudos e práticas que permitem a comunicação direta entre o homem e o Divino,
sem intermediários ou restrições de qualquer sistema teológico fechado;
o
Teosofia:
um sistema que compreende a interpretação harmonizada de princípios filosóficos,
religiosos e científicos.
A divisão das Ordens apresentadas no
desenvolvimento deste estudo nas vertentes apresentadas, bem como a relação
histórica entre o surgimento das mesmas, pode ser visto no seguinte gráfico:
Este estudo proporcionou um interessante achado, a
relação de proximidade e de colaboração entre os principais líderes
responsáveis pela divulgação da tradição Rosacruciana durante o final do século
XIX e início do século XX: Clymer, Crowley, Eliphas Lévi, Guaita, Krumm-Heller,
Mathers, Papus, Péladan, Reuss e Spencer Lewis. Apesar de alguns conflitos que
ocorreram entre umas dessas personalidades, como Clymer e Lewis, a história
mostra que era comum que líderes de algumas Ordens eram membros de outras, assinavam
manifestos em conjunto, trocavam cartas e títulos.
Algumas Ordens se fundiram e outras trabalharam
juntas. Tudo isso indica que, apesar dos interesses pessoais e institucionais,
a difusão do conhecimento rosacruciano básico foi geralmente tratada como
prioridade.
Outra evidência dessa intenção sinérgica foi a
iniciativa de Papus, a qual contou com a associação de muitos dos líderes
citados anteriormente, que foi a criação da FUDOSI – Federatio Universalis
Dirigen Ordines Societatesque Initiationis (LEWIS, 2004), uma associação global
de sociedades esotéricas, muitas das quais rosacrucianas. O primeiro passo para
esse objetivo ocorreu em 1908. Porém, muitos dos líderes dessas organizações
não partilhavam um sentimento de mútuo respeito, o que levou a FUDOSI a
encerrar suas atividades em 1951.
É também interessante observar que muitos dos mais
populares e respeitados nomes do ocultismo, como Eliphas Lévi, Papus, Stanislas
de Guaita e, o mais polêmico de todos, Aleister Crowley, eram adeptos da
tradição rosacruciana e estavam engajados em sua causa. Isso é definitivamente
uma forte evidência da importância e credibilidade que a tradição rosacruciana
possui no meio ocultista.
Kennyo Ismail
Publicado no Blog “No Esquadro”
- www.noesquadro.com.br